Idosos merecem ser tratados com dignidade pela ‘Saúde da Madeira’

Escrevo esta carta movido por uma profunda indignação e tristeza ao constatar a realidade vivida pelos nossos idosos no serviço de urgência do Hospital Dr. Nélio Mendonça. É inadmissível que, em pleno século XXI, cidadãos com décadas de contributo para a nossa sociedade estejam agora condenados a passar dias e noites em macas espalhadas pelos corredores do hospital, sem a devida dignidade, privacidade ou conforto.

A falta crónica de camas para internamento não pode continuar a ser ignorada ou tratada como uma inevitabilidade. É uma questão de respeito humano e de justiça social. O envelhecimento da população é uma realidade há muito anunciada — por que razão o sistema não foi devidamente preparado para dar resposta a esta pressão?

Para além da questão da superlotação, não podemos esquecer que a higiene pessoal e a saúde mental dos nossos idosos ficam gravemente comprometidas nesta situação. Passar horas a fio sem a possibilidade de um banho adequado, sem a privacidade necessária para o descanso, e muitas vezes com dificuldades em comunicar com os profissionais de saúde devido ao ambiente agitado e desconfortável, resulta numa profunda perda de dignidade. A saúde mental, já fragilizada pelo avançar da idade, é ainda mais afetada pelo stress e pela ansiedade gerados por esse ambiente desumano.

Os corredores hospitalares não são lugar para ninguém, muito menos para quem já vive com fragilidade física e emocional. A vergonha que é ver idosos abandonados e sem a mínima condição de cuidado básico é algo que não podemos aceitar, muito menos em um destino como a Madeira, que se orgulha da sua hospitalidade e dos seus valores de respeito e solidariedade.

É urgente uma resposta estrutural e humana, que envolva investimento, planeamento e, sobretudo, vontade política. As nossas autoridades não podem continuar a virar as costas a esta realidade.

A Madeira merece melhor. Os nossos idosos merecem melhor.

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