Sindicato da Hotelaria expõe patrões
Cerca de 50 panfletos já tinham saído das mãos de Ezequiel Abreu, que tem quase 64 anos e em Outubro comemorará 40 de trabalho. “Nós achamos que isto é uma vergonha autêntica”, desabafou ao DIÁRIO. “Depois de um ano tão importante que eles tiveram, quase dos melhores de sempre, até hoje não abrem mão de mais qualquer coisa para o seu staff”, lamentou o empregado, um dos representantes do Sindicato dos Trabalhadores na Hotelaria, Turismo, Alimentação, Serviços e Similares da Região Autónoma da Madeira que esta manhã passaram novamente à acção num nova forma de luta, o de sensibilizar o cliente e expor os patrões. Além desta campanha nas ruas, a possibilidade de nova greve na Páscoa e Festa da Flor estarão hoje em cima da mesma no plenário a decorrer no Funchal.
A folha A4 pintada a verde e azul não remete para uma mensagem partidária ou para publicidade a produtos, mas para a luta dos empregados de quartos, empregados de mesa e barmens, entre outros, que se sentem injustiçados com os salários em vigor e que agora enveredaram por uma nova estratégia para forçar a sua posição, depois da greve e da ida à Quinta Vigia, residência oficial do Presidente do Governo.
O panfleto, com a mensagem em português, inglês, francês e alemão fala de trabalhadores que não vêem reflectidos nas suas vidas os números crescentes do turismo que bate recordes, eleva o PIB e ficam registados para a posteridade na estatística. Por isso vão ao cerne da questão, revelando exemplos de salários auferidos por estes funcionários nos hotéis. Nos de 4 e 3 estrelas recebem os 915 euros de salário mínimo. Num 5 estrelas sobe cerca de 5 euros para 920,13 euros, escreveram
“É por aumentos justos que os trabalhadores da hotelaria estão em luta, pelo que solicitamos o vosso apoio e solidariedade”, pedem na mensagem, denunciando no verso da folha A4 a situação de que “estão a ser vítimas, nomeadamente nas suas condições de vida e de trabalho”. É com um pedido de desculpas pelo incómodo que possam causar à estadia, que começam as seis linhas, para depois dar conta do braço de ferro que opõe o sindicato e a ACIF, representante do patronato. Apesar do aumento de entrada de turistas e de receitas na Região, sublinham, “as empresas de hotelaria e a sua Associação, limitam-se a oferecer um aumento salarial mínimo, 53 euros mensais, um valor claramente injusto para quem tanto luta pela qualidade de serviços”, escreveram.
“As pessoas lêem, eu tenho de fazer a explicação a dizer-lhes que isto é o salário que eles nos querem dar. Independentemente daquilo que eles pagam, o salário que eles nos querem dar é muito pouco”, reforçou Ezequiel Abreu, que planeia para o próximo ano ir para a reforma. “Nós vamos ao supermercado gastamos o dinheiro que eles nos querem dar num dia. Mas o resto dos dias do mês, o que é que vamos comer?” E sublinha a importância de lutar. “Se nós não lutarmos agora, no futuro ainda será pior”, alerta. “Vou continuar a trabalhar e depois de reformado vou continuar a lutar”, garantiu, levantando a mão para entregar mais um panfleto, este a um carro que passava mais lento.
Mas a campanha ia morna, como nos confessou uma das sindicalistas na Rua da Casa Branca, e Rua de Saint Helier. Estiveram cerca duas dezenas e meia de membros do sindicato distribuídos esta manhã também pela Estrada Monumental e Avenida do Infante. “Há umas pessoas que aceitam, outras não”, respondeu relativamente aos panfletos. “Muitos já saem de carro, é mais difícil de chegar”, confessou. Nenhum quis saber mais, questionou, disse.
Pretendemos que sirva de ajuda, que seja um abrir de olhos. Porque muitos turistas se calhar pensam que pagam um valor extra ou maior a pensar que contribuem para os nossos salários, isso não é correcto.
Estão a pensar ir para o aeroporto, como já anunciado, será no dia 17 de Abril, e tem esperança também no novo Governo, a ver se ajuda. “Não vamos desistir”, garante Neusa Nóbrega.
E vai entregar mais um planfleto a um casal de meia-idade. Magaud e Claude vêm dos arredores de Paris, estão pela primeira vez na Madeira. Leram a mensagem. “Eles têm razão”, admitiu o visitante. “Em França nós temos as mesmas situações, os mesmos problemas”, contou. “e eles param os carros nas ruas para dar os manifestos”. Eles vieram por uma semana, já não serão afectados pela eventual greve que será decidida esta tarde.
Quem também se vê nesta posição é Beg Bahadur, que está na Madeira há três anos. Este imigrante do Nepal também é afectado pelos baixos salários. “Nós trabalhamos duro e devíamos ter melhores condições”, disse num inglês difícil.