As sondagens acertaram na tendência de voto dos eleitores?
As sondagens muitas vezes aproximam-se da realidade, mas tantas outras vezes falham esses objectivos. No caso das sondagens eleitorais são realizadas sob determinadas condições que apresentam resultados que revelam uma tendência, mas podem não espelhar, efectivamente, o que as urnas vão acabar por determinar. Tendo em conta que são inquéritos de opinião, muitas vezes feitas por telefone e, mais recentemente, por inquérito online, e escolhidos os eleitores de forma aleatória mas metódica, tendem a acertar em parte dos resultados, mas também a falhar noutra parte.
O objectivo da sondagem de opinião realizada pela Aximage — Comunicação e Imagem Lda. para o DN-Madeira, "sobre a intenção de voto nas próximas Eleições Regionais", procurou ouvir um conjunto de "indivíduos maiores de 18 anos residentes na Região Autónoma da Madeira", tendo a "Amostragem por quotas" sido "obtida a partir de urna matriz cruzando sexo, idade e região (3), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género (2) , idade (3) e região (3)". É verdade que "a amostra teve 561 entrevistas efectivas", sendo "227 realizadas em CAWI (Computer-Assisted Web Interviewing, ou seja por computador) e 334 realizadas em CATI (Computer-Assisted Telephone Interviewing, por telefone); 299 homens e 262 mulheres; 165 entre os 18 e os 34 anos, 207 entre os 35 e os 49 anos, 189 com 50 e mais anos". Refere a nota técnica do estudo que "o trabalho de campo decorreu entre 7 e 17 de Março de 2025", tendo obtido uma taxa de resposta de 40,88%, daí que "a margem de erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de + ou -4,1%".
Depois deste pressuposto técnico, olhemos ao conceito. Segundo o dicionário Priberam da Porto Editora, uma sondagem de opinião é um "processo de estudo de um mercado ou de uma opinião pública, que consiste em informar a totalidade duma população dos resultados obtidos por intermédio dum pequeno número de pessoas contactadas directamente, ou depois de reflexão, como representativas do conjunto dessa população; inquérito por sondagem".
Praticamente a mesma metodologia foi seguida pela Intercampus, que realizou uma sondagem com o mesmo objectivo para o JM, publicada dois dias antes da do DIÁRIO, realizada entre 5 e 13 de Março pelo método CATI, numa amostra de 801 entrevistas.
É quase uma certeza sempre que saem sondagens de opinião sobre política e, sobretudo, sobre eleições à vista, há sempre quem as analise, muitas vezes tratando de as relativizar e não menos vezes ridicularizar os seus resultados. É o que aconteceu, por exemplo, na quinta-feira com o líder do JPP, Élvio Sousa, cuja análise, em parte, usamos para fazer este fact-check.
Colocar em causa a sondagem, culpando muitas vezes os jornalistas e as empresas de comunicação também é uma quase inevitabilidade. No caso da Aximage, é uma empresa fundada em 1987 que "tornou-se numa referência nacional produzindo informação diferenciada, de qualidade técnica inquestionável e independente. O maior testemunho da nossa competência é o escrutínio do resultado das eleições. Em 2019, a Aximage foi a empresa responsável pela sondagem que mais se aproximou dos resultados das eleições legislativas", autoelogiam, mas são factos. No caso em particular, as empresas de comunicação encomendam (pagam) a realização das sondagens e recebem os resultados sem qualquer interferência na sua concepção e conclusão. O tratamento jornalístico é feito com base nos resultados entregues.
No caso da Intercampus, é uma empresa "especialista em recolha de dados”, que “realizou, desde a sua fundação em 1990, mais de 8.000 projetos de Market Research, em Portugal. A nossa missão é o que aconselhamos em rigor aos nossos clientes: Recolher para conhecer, conhecer para decidir. Membro associado e fundador da APODEMO (Associação Portuguesa das Empresas de Estudos de Mercado e de Opinião), pautamos a nossa atividade pela qualidade, aplicando com rigor os códigos de ética e deontologia do setor".
Portanto, quando se coloca em causa as sondagens publicadas pelos órgãos de comunicação social está-se, na verdade, a colocar em causa a idoneidade destas empresas de sondagens, que seguem regras restritas e certificadas.
Analisemos então as sondagens e o resultado da eleição de domingo. No primeiro caso, publicada seis dias antes do sufrágio, dava 38,4%, o PS com 16,7%, o JPP com 10,7%, o CH com 5,4%, a IL com 2,8%, o CDS com 2,5%, a CDU com 1,8%, o PAN com 1,7%, o BE com 1,4% e o Livre com 0,8%, sendo que dava 18% para indecisos.
Em termos de distribuição de lugares no parlamento regional, dava 24 deputados para o PSD, 10 deputados para o PS, 6 deputados para o JPP, 3 para o CH e 1 deputado para a IL, CDS, CDU e PAN, numa distribuição parlamentar com 8 partidos.
Quanto à segunda sondagem, divulgada a 4 dias do sufrágio, dava 33,8% para o PSD, 18,6% para o PS, 17,5% para o JPP, 7,3% para o CH, 2,3% para o CDS, 1,3% para a IL, 1,3% para o BE, 1,1% para o PAN, 1% para a CDU, 0,3% para o Livre, sendo que 3% referiam-se a ‘outros/brancos/nulos’ e 12,5% diziam-se ainda indecisos (entre ir votar ou não).
Quanto à distribuição de mandatos, com estes resultados o PSD teria 21 deputados, o PS ficaria com 11 e o JPP com 10, o CH com 4 e o CDS com 1 deputado, deixando o parlamento com 5 partidos representados.
Já os resultados de domingo determinaram 43,43% para o PSD, 21,05% para o JPP, 15,64% para o PS, 5,47% para o CH, 3% para o CDS, 2,17% para a IL, sendo que em termos de mandatos o PSD elegeu 23, o JPP elegeu 11, o PS elegeu 8, o CH elegeu 3 e a IL e o CDS elegeram 1 cada. Nota para a CDU que ficou a pouco mais de meia centena de eleger um deputado e voltar ao parlamento e o PAN que perdeu o assento parlamentar que conquistara as anteriores legislativas regionais.
Assim sendo, a sondagem DIÁRIO/Aximage dava menos 2 deputados ao PSD, enquanto o do JM/Intercampus dava 1 a mais. Seguindo a ordem de eleitos, o JPP tinha menos um na primeira sondagem, mas menos 5 na segunda. O PS tinha mais um na primeira, mas mais dois na segunda. O CH tinha mais um na primeira, e acertou nos eleitos na segunda. A IL teve um eleito, o que a primeira sondagem não previu, e acertou no eleito na segunda. O CDS teve 1 deputado eleito, o que as duas sondagens acertaram. E PAN e CDU não elegeram, o que a primeira sondagem previu, mas a segunda sondagem falhou. A sondagem Aximage dava cinco partidos no parlamento, menos um do que o resultado eleitoral, enquanto a Intercampus teve mais dois partidos do que efectivamente vieram a resultar o sufrágio de domingo.
Recuemos ainda uns meses, mais precisamente à penúltima sondagem publicada pelo DIÁRIO há 3 meses, uma semana antes da aprovação da moção de censura que derrubaria o Governo Regional. Este estudo dava conta que "os social-democratas vencerão as 'Regionais' antecipadas. PS e CDS perdem deputados, CH e IL ganham e JPP mantém-se igual". Olhando aos resultados agora, essa sondagem de Dezembro do ano passado acertou menos do que a mais recente sondagem, o que vem confirmar a conclusão deste fact-check.
Tendo em conta que as sondagens, realizadas pela Aximage para o DIÁRIO e pela Intercampus para o JM, visaram perceber a tendência de voto dos eleitores auscultados, e dado que, também, são limitados pela dimensão e pela percentagem de respostas dos inquiridos, é perfeitamente normal que não acertem em cheio nos resultados, como ficou claro. No caso das eleições realizadas ontem, as duas sondagens revelaram, efectivamente, uma tendência de voto que se veio a provar mais acertada do que falhada.