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Regionais 2025 Madeira

Sísifo chegou à Madeira

Jornalista Nuno Dias da Silva comenta a campanha vista de fora

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Os candidatos às eleições regionais do próximo dia 23 de março já estão na rua para tentar desfazer o impasse político em que a Madeira se encontra. À semelhança do que acontece para o Parlamento nacional, também na 'Pérola do Atlântico' já se tornou um penoso e anormalmente frequente hábito a ida a eleições para eleger a sua Assembleia Regional.

É caso para dizer que a era dos extremos e da fragmentação política já chegou (e em força) à Madeira. Isto após 37 anos em que Alberto João Jardim e o PSD-Madeira dominaram, a seu bel-prazer, qualquer sufrágio realizado. Triunfos esmagadores e categóricos que pintaram de laranja todos os concelhos da Região durante anos a fio.

Jardim e o “jardinismo” saíram de cena, Miguel Albuquerque instalou-se na Quinta Vigia, mas não é (nem por sombras) Alberto João Jardim e emergiu um agente provocador, conflituante e desestabilizador chamado Chega.

Se a isto se juntar, investigações e suspeitas judiciais, temos o caldo perfeito para o caos. O PSD continua a ganhar eleições, mas de forma anémica, tendo perdido a incontestável hegemonia que durante décadas alardeou.

Quem desata este nó? Sem acordos pós-eleitorais, de preferência duradouros, dificilmente a estabilidade política regressará à Assembleia Legislativa regional. A democracia parece bloqueada, numa encruzilhada.

O atual estado de coisas faz-me lembrar Sísifo, um personagem da mitologia grega que foi condenado a repetir eternamente a tarefa de empurrar uma pedra até ao topo de uma montanha, sendo que, sempre que estava quase a alcançar o cume, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido.

Este processo seria sempre repetido até à eternidade. Projetando este exemplo para a realidade, quem carrega este gigantesco pedregulho de instabilidade são os de sempre: o povo. Sem confiança no sistema e nos atores políticos.

Para a descrença não ser completa, só nos resta mesmo acreditar no que dizia Churchill: “A democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros”.