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Regionais 2025 Madeira

"O falso introvertido"

Aqui traçamos o perfil de Gonçalo Maia Camelo, candidato da IL, com a ajuda do próprio

Gonçalo Maia Camelo nasceu em Lisboa, em São Jorge de Arroios há 50 anos e cresceu entre a capital e Sintra, onde passava fim-de-semana e as férias de Verão, indo com frequência à Praia Grande e à Praia das Maçãs. Agora vive na Madeira, no Funchal, que abraça de corpo, alma e coração.

O cabeça-de-lista da Iniciativa Liberal (IL) é o primeiro de três filhos de uma professora e de um gestor público. É casado em segundas núpcias, está com a actual mulher há 19 anos, e tem quatro filhos, Tomás de 24, Leonor de 20, Francisco de 16 e Matilde de 10.

As letras sempre foram o seu mundo. No Secundário e na universidade fugiu da matemática e dos números, que ainda hoje tem dificuldade em gerir. Queria ser arqueólogo, inspirado pelos filmes do Indiana Jones e pelo gosto pela História, que sempre teve. A avó paterna chamou-o à realidade. A professora de História alertou-o que não ganharia bem e a paixão mais espontânea cedeu, repensou o percurso e adoptou a segunda, a advocacia. O pai, também ele licenciado em Direito foi-lhe incutindo o bichinho desde criança e com naturalidade ingressou na Católica.

De 12.º ano à conclusão do curso foram seis anos, lá deu-se muito bem com os colegas madeirenses que estavam como ele na faculdade de Direito, tendo dessa boa relação resultado algumas férias na Madeira.

Quanto terminou o curso, já advogado, começou a trabalhar regularmente na ilha, pois as sociedades de advogados com quem trabalhou tinham bastantes clientes por cá. A primeira vez que pisou solo madeirense ficou deslumbrado, sentiu que estava num paraíso meio tropical tendo desde essa altura a sensação de que seria um bom lugar para viver e criar crianças, o que acabou por acontecer 15 anos depois de ter iniciado a profissão.

Fruto das muitas vindas, dos clientes, amigos e mais e relações que foi desenvolvendo e que o incentivaram, acabou por se mudar de malas e bagagem para a terra que já vê como sua. “Sou um madeirense nascido em Lisboa”. E diz que madeirense é quem tem a Madeira no coração.

Neste momento Gonçalo Maia Camelo está cá apenas com o filho mais velho. A mulher foi colocada em trabalho em Lisboa, com hipótese de voltar à Madeira no próximo ano lectivo e os outros três filhos estão a estudar também na capital.

Tanto ele como a esposa têm as respectivas famílias nucleares no continente e são frequentes as visitas e as férias à casa em Sintra. É também lá que reencontra as duas cadelas hoje velhinhas que os acompanharam na Madeira quando tinham uma casa e que agora, que se mudaram para um apartamento, passeiam pelos quintais da propriedade da família.

Antes doido por futebol, hoje é adepto e veste a camisola do Marítimo desde que um dos filhos ingressou no clube. Está no escalão de juniores com jogos fora de 15 em 15 dias, que o pai faz questão de sempre que possível acompanhar. O cabeça-de-lista já andou a correr atrás da bola. Tinha jogado no Secundário no Colégio Valsassina, que frequentou até ao 11.º ano e depois num ‘três em um’ até aos 23 anos na faculdade. Era o responsável pela equipa, treinador e jogador, tendo nos últimos anos jogado futebol federado também na Associação de Futebol Distrital de Lisboa, no Centro Desportivo Universitário de Lisboa.

A par destes clubes e agora do Marítimo que adoptou quando se fixou na Madeira, era o Porto que lhe enchia as medidas e os pulmões de orgulho. O título de campeão europeu foi celebrado como se tivesse sido uma conquista pessoal. Foi para a rua celebrar no meio de outras pessoas que em Lisboa celebravam a vitória portista. Hoje o futebol já é demasiado mercantil, comercial, lamenta. Diz que o dinheiro passou a estar acima de tudo o resto, do desportivismo, do amor ao clube e da prática do desporto.

Por isso, tirando o Marítimo que o preocupa, raramente vê jogos de futebol na televisão. Prefere ver filmes, séries e ler. Gosta de filmes e livros com uma componente histórica ou de ficção científica, ou não fosse Gonçalo Maia Camelo fanático também da Guerra das Estrelas quando adolescente. Era igualmente fanático da música pesada, heavy metal, Guns N' Roses, Metallica, Iron Maiden e outros. Agora prefere o rock. Mas desse tempo guarda uma colecção de vinis. Nunca se deixou conquistar pelas tatuagens, apesar de ter chegado a ponderar, assim como um brinco que não concretizou. Teve os seus excessos admite, uma infância e adolescência bastante recheadas e divertidas e nada ficou por fazer, dentro da legalidade. “No limite do razoável experimentei tudo o que havia para experimentar”.

Os clientes dizem que em tribunal vira um bicho, um papel que encarna. Enquanto criança e adolescente era relativamente introvertido. “Era o falso introvertido”, admite, pois entre os amigos não dispensava uma boa piada. Hoje não se assume como tal, mas também não é ‘à vontadinha’, como se diz em Portugal.

O ser cabeça-de-lista por umas eleições, ainda que regionais, tem o seu preço. A exposição mediática vem no pacote, nunca ninguém sabe muito bem ao que vai quando se candidata, confessou, embora já tivesse experimentado alguma visibilidade fruto da profissão e de alguns cargos de segundo plano que desempenhou no Governo de Durão Barroso.

É um homem que sempre se interessou pela política. E não lhe faltaram exemplos. A família mais próxima ia da Esquerda ao Centro-Direita, mas foi com esta Direita que se identificou. Os avós paternos são comunistas de gema, os maternos sociais-democratas, tendo o pai chegado a chefe de gabinete de um secretário de Estado. Bebeu dessa diversidade política, que acredita é positiva, sem nunca se ter identificado plenamente com nenhum dos partidos, mesmo quando desempenhou funções governativas no governo de Durão Barroso, foi chefe de gabinete e adjunto do secretário de Estado Adjunto da Ministra da Justiça. Na altura, andava entre o PSD e o CDS. Assume que era mais o que o afastava desses partidos do que o que o aproximava. Até que apareceu a IL.

E foi com o aparecimento da IL que realmente o sapato encaixou, com os princípios e com a mensagem do partido criado em 2017. De outra forma teria continuado treinador de bancada, comentador e observador. Assume que este papel mais activo foi motivado também por constatar que depois de 50 anos passados do 25 de Abril o país estava “cheio de defeitos e cheio de problemas”.

A militância só veio recentemente, é o número 7.854. A candidatura de Março de 2024 às legislativas para a Assembleia da República foi ainda como independente.

Ainda não andava e já participava em mobilizações, os avós maternos levaram-no para a manifestação em frente à Fonte Luminosa após o 25 de Abril e fizeram questão de sempre lhe recordar essa participação. Quando Freitas do Amaral (líder do CDS) foi candidato à presidência em 1986 com o apoio do PSD, Gonçalo Maia Camelo conta que vibrou como se a vitória na primeira volta tivesse sido sua.

O candidato acredita que Portugal é um país adiado, que teve uma fase de crescimento muito grande a seguir à adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), mas porque estava muito atrasado. Depois disso o país estagnou “pelas políticas estatizantes e socialistas que têm sido implementadas desde então”.

O liberal quando ainda não era, integrou a comissão de implementação da reforma do contencioso administrativo e liderou a comissão de revisão do Código das Custas Judiciais. Diz que a Justiça tem problemas crónicos. As mudanças tecnológicas, não anulam os condicionamentos que alega existirem dos “interesses corporativistas”. Para este sector ainda muito tradicionalista, quer no ensino, quer na prática, defende soluções disruptivas. Fala de processos “recambolescos” e de “formalismos excessivos”. Aplaude a privatização dos notários e aponta como possível caminho a privatização dos registos e a privatização da vertente de gestão do alojamento dos Serviços Prisionais.

Numa vertente mais pessoal, saiba que Gonçalo Maia Camelo detesta acordar cedo, mas dá-se bem a trabalhar até tarde e mesmo durante a noite. Não quer grandes conversas, pelo menos até tomar um primeiro café. Não canta no duche e quando canta fora dele, as pessoas normalmente vão embora, por isso não passou ao lado de uma grande carreira na música, como se poderia dizer de outro advogado e cabeça-de-lista. A própria professora desincentivou-o quando arriscou colocar a hipótese de aprender um instrumento musical.

Diz que é uma pessoa muito pouco conflituosa nas relações sociais. Nas relações pessoais, só se dá com as pessoas que gosta e que sente que gostam dele também, não tem paciência para relações falsas ou de conveniência.

Assume-se como agnóstico, acredita que exista qualquer coisa superior embora não saiba como muitos bem o que possa ser. Não se revê em nenhuma religião. Se se revisse, seria na Católica, por uma questão mais cultural e da afinidade. Reconhece o papel social da Igreja, mas não acredita que as igrejas ou a igreja em si “sejam instituições muito perfeitas”.

A comida é o seu pecado, é um bom garfo. É um homem de carnes Não resiste a uma boa feijoada, a um cozido à portuguesa e não dispensa as massas e o arroz. Já as frutas e os legumes ficam de fora. Além de gostar de comer, cozinha, e diz que não cozinha mal. Elege ao fogão a comida de conforto, nada de muito complicado ou trabalhoso.

Viajar é outra das suas paixões, quer conhecer mais países. Entre os sítios de sonho está Machu Picchu, no Peru. Lamenta que o turismo se tenha tornado muito cansativo, agressivo e em excesso, obrigando a planificação, filas e complicações.

Ver os filhos com a vida orientada, este é o seu maior sonho/desejo/missão. Já se for eleito presidente, a sua primeira medida será esgotar o diferencial fiscal para que as famílias possam ter mais dinheiro disponível e em consequência derramar na economia e nas empresas. E porque não o poder fazer sem a contenção da despesa, traçará um plano para contenção da despesa pública.