DNOTICIAS.PT
Crónicas

Onde é que tu andas?

As novas tecnologias trazem-nos permanentemente novos e interessantes desafios. Uns que nos fazem evoluir e nos facilitam a vida, outros que põem em causa algumas das verdades do passado e da forma como nos comportamos em sociedade. A nossa capacidade em aproveitar o que é bom, tendo cuidados com o que nos coloca em perigo, será seguramente o equilíbrio perfeito mas que nem sempre é fácil de encontrar. Facilmente a introdução de novos paradigmas resvala para o desconhecido, vamos por ali e sem querer estamos a dar algumas ferramentas a quem não tem a melhor das intenções. Seja na entrega de dados pessoais e confidenciais como no mapeamento do que fazemos e por onde andamos, abrindo demasiado um livro que deveria ter alguma páginas secretas ou que não é suposto serem do conhecimento público. Sobretudo os mais jovens que vivem grande parte do seu tempo numa bolha digital complexa e tantas vezes obsessiva que não conhece limites ou barreiras. Tudo parece fácil e simples de aparência inofensiva e construtiva. Essa navegação à vista que muitas vezes representa a realidade indissociável da vida nas redes, baralha e leva ao engano, provoca dissabores, frustrações e uma inaptidão para o relacionamento com os outros. Uma realidade paralela.

Uma nova tendência tem emergido nos adolescentes e que vem na consequência desta digitalização do convívio e das regras de convivência. É a partilha recorrente e sistemática da sua localização. Aquilo que foi pensado e desenhado para garantir segurança em situações especificas (ainda me lembro que tinha um localizador no carro, quando vivia em Moçambique, numa altura em que se sucediam os raptos) é agora usado de forma consentida para os mais novos saberem onde estão, uns e outros. Sou seja, autorizam que um ou mais amigos, ou namorada/o possam seguir os seus passos e conheçam para onde se deslocam e onde se encontram 24 sob 24 horas. Isto representa um abuso de privacidade, consentida claro está, mas que lhes incute uma pressão e ansiedade difíceis de controlar. E se acham que este modus operandi representa um pacto com a verdade não podiam estar mais equivocados. Resulta em desilusão, mentiras, tristeza e dor. São apanhados frequentemente a enganar os que lhes são próximos e em alguns relacionamentos, quando um deles desliga propositadamente o serviço é assumida a traição de forma crua e evidente, levando à sensação de abandono.

As pessoas precisam de ter o seu espaço e o seu tempo de liberdade e de independência. Não é bom estarem a ser permanentemente escrutinados nem vasculhados através da obsessão ou insegurança. Necessitam de paz, tranquilidade, leveza e privacidade. Estas são regras básicas que nem a inteligência artificial consegue suprir. É do domínio emocional e interior, é condição fundamental para estarmos bem e psicologicamente saudáveis. Eu não quero saber onde é que tu andas porque tenho confiança em ti e se não tenho confiança em ti também me estou nas tintas para onde é que tu andas. Ou estamos com pessoas que nos transmitem essa naturalidade ou não será o facto de estarmos agarrados ao telemóvel a tentar perceber o que está a fazer que irá alterar o estado das coisas ou a vontade dos outros. É importante que alguém lhes diga de forma clara e que os faça perceber que a partilha da localização de forma permanente não é a demonstração de amor ou de amizade mas antes a chave para o cofre da suspeição que não deve ser aberto.

Não mexam na vossa segurança e na vossa privacidade nem permitam que alguém vos sugira tal coisa pois esse é um caminho sem regresso. Quem não tem nada a esconder também não tem nada a provar.

Frases soltas:

Cristiano Ronaldo vai-se casar e decidiu que a celebração deve ser um regresso às origens. Primeiro acho uma demonstração de simplicidade e gratidão pela terra que o viu nascer e depois uma forma de homenagear o sítio onde se sente em casa. Com os convidados que se adivinham este promete ser um evento de arromba e mais uma montra para a marca Madeira, único destino português que se mantém a crescer na casa dos dois dígitos. Assim que se souber a data espera-se um turismo voyeur sem paralelo e que deixará seguramente empresários e governantes a esfregar as mãos.

Com a inteligência artificial a ameaçar várias profissões e empregos, os mais jovens começam a sentir necessidade de procurar carreiras “à prova de futuro”. Como tal são cada vez mais os que se viram para profissões técnicas, empregos manuais e cursos em escolas profissionais. É o Mundo a adaptar-se aos novos tempos.