Dirigente defende rigor na selecção e acompanhamento das famílias
Miguel Simões Correia, voluntário e presidente da Associação Candeia, deixou hoje um alerta firme no X Encontro de Voluntários da Região: o voluntariado, sobretudo quando envolve crianças e jovens em contexto de fragilidade, exige rigor, preparação e um profundo sentido de responsabilidade.
O dirigente sublinhou que a motivação é essencial, mas que não substitui o compromisso nem dispensa a avaliação técnica. “Não basta dizer ‘estou disponível para qualquer criança’. Isso nunca corresponde à verdade e pode gerar danos sérios”, afirmou.
Partilhando a experiência do projecto Amigos para a Vida, o responsável explicou que muitas famílias começam por declarar disponibilidade total, mas quando as equipas técnicas aprofundam o perfil, revelam limitações concretas relacionadas com género, idade, mobilidade ou necessidades específicas da criança. “E não tem mal nenhum. O que não pode acontecer é avançar de forma irreflectida e depois recuar, deixando a criança com mais uma ruptura numa vida já marcada por fragilidades”, afirmou no painel cujo tema era valor social do voluntariado, moderado por Ricardo Miguel Oliveira, director geral e editorial do Empresa Diário de Notícias.
Miguel Simões Correia insistiu que é responsabilidade das equipas técnicas assegurar um match adequado entre voluntário e criança, sempre orientado pelo interesse superior do menor. “O voluntário não está a escolher. Está apenas a dizer até onde pode ir. A escolha é feita por nós, com critérios técnicos”.
O presidente da Candeia abordou também uma realidade frequente nas associações: a tendência dos voluntários para preferirem tarefas com maior retorno emocional ou reconhecimento, deixando de parte funções essenciais de bastidores. “Todos querem estar com as crianças. Ninguém quer limpar armazéns, separar bens, transportar caixas ou ajudar na angariação de fundos. Mas sem este trabalho invisível, nada do resto funciona”.
Por isso, defendeu que as instituições devem ser assertivas na definição das suas necessidades. “Não podemos aceitar o ditado de que a cavalo dado não se olha o dente. Se uma entidade precisa de um voluntário que esteja presente certos dias, com um horário específico e uma função concreta, deve dizê-lo claramente. Se a pessoa não pode cumprir, então aquele voluntariado não é para ela”, reforçou.
Recordou ainda que, tal como existem desistências na adopção e no acolhimento familiar, também no voluntariado social podem ocorrer retrocessos. “É natural que algumas famílias avancem e depois percebam que não conseguem. O importante é que isso aconteça o menos possível. Por isso trabalhamos tanto para reduzir as falhas e antecipar factores de risco”.
O dirigente concluiu reforçando que o voluntariado deve ser vivido com verdade, responsabilidade e clareza. “O compromisso voluntário só é verdadeiro quando corresponde àquilo que a pessoa realmente pode dar. E só assim conseguimos proteger quem mais importa: as crianças e jovens que acompanhamos”, frisou.