Rússia retoma contactos com EUA após analisar plano de paz
O Kremlin anunciou hoje que a Rússia retomou os contactos com os Estados Unidos, depois de analisar o plano de paz revisto, de 20 pontos, apresentado pela Ucrânia e por aliados europeus.
"O contacto ocorreu a pedido do Presidente", disse o porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, referindo-se a Vladimir Putin, durante a conferência de imprensa diária por telefone.
Peskov acrescentou que a parte russa esteve representada pelo conselheiro político do Kremlin Yuri Ushakov, enquanto os Estados Unidos participaram através de "vários interlocutores".
O porta-voz indicou ainda que o enviado do Kremlin para a Ucrânia, Kirill Dmitriev, transmitiu a Putin os resultados da recente deslocação aos Estados Unidos e dos contactos mantidos com responsáveis norte-americanos, acrescentando que Moscovo e Washington "concordaram em continuar o diálogo".
Até ao momento, nem Putin nem outros responsáveis russos comentaram publicamente o documento de 20 pontos apresentado esta semana pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Peskov reiterou que declarações públicas poderiam "impactar negativamente o progresso do processo de negociação".
Analistas independentes consideraram, contudo, que o silêncio de Moscovo pode traduzir reservas substanciais ao plano, à semelhança do que sucedeu com a versão inicial de 28 pontos, por este não contemplar as exigências territoriais russas nem uma redução significativa do exército ucraniano.
Na semana passada, Putin afirmou que nunca rejeitou o plano apresentado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, sustentando que "a bola está com Kiev" e aliados.
O chefe de Estado russo voltou então a exigir a retirada ucraniana do Donbass, defendendo que o respeito pelos interesses de segurança da Rússia é essencial para evitar futuras operações militares na Europa.
O portal Axios noticiou que Trump deverá receber Zelensky no domingo, na residência na Florida, depois de o Presidente ucraniano ter afirmado que "uma decisão pode ser tomada bem antes do Ano Novo".
A retoma cautelosa dos contactos diplomáticos ocorre num contexto de crescente pressão económica interna sobre Moscovo, que se prepara para voltar a aumentar impostos em 2026 de modo a financiar o esforço militar na Ucrânia, admitiram as autoridades russas.
O Ministério das Finanças russo anunciou que o imposto sobre o valor acrescentado (IVA) vai subir de 20% para 22% no próximo ano, justificando a medida com a "prioridade estratégica" de assegurar o financiamento da defesa e o apoio social às famílias envolvidas na chamada "operação militar especial", numa economia afetada pela queda do investimento, pela subida dos preços e pelo enfraquecimento de setores essenciais, como a energia, a metalurgia e, em particular, o carvão.
Apesar do agravamento da crise - com quebras acentuadas nas receitas de petróleo e gás, na sequência das novas sanções norte-americanas e dificuldades em grandes empresas estatais - Putin tem reiterado a intenção de prosseguir a campanha militar, defendendo que a população vai compreender o aumento da carga fiscal desde que o Estado garanta segurança e cumpra os compromissos sociais, num quadro em que, de acordo com analistas, o dinamismo económico russo é "quase nulo", com a indústria militar a ser uma das poucas áreas ainda em plena atividade.