Venezuelanos temem que tensões com os EUA intensifiquem crise económica e social
As crescentes tensões com os EUA, com a recente interceção de um barco com petróleo da Venezuela e um eventual bloqueio a exportação de hidrocarbonetos venezuelanos está a fazes a população temer um agravamento da crise.
"Ficar sem poder exportar petróleo é uma situação muito séria, somos um país dependente da exportação petrolífera e isto significa que em breve veremos um agravamento da crise económica e social no país", explicou um venezuelano à Agência Lusa.
Júlio Yepez, contabilista, recordou que no passado a Venezuela passou por momentos muito complicados que atribui às sanções internacionais, entre os quais refere a escassez de produtos alimentares e a falta de combustível.
"A nossa Zona Económica Exclusiva Marítima está condicionada, bloqueada com barcos de guerra dos EUA sob o pretexto de combater ao narcotráfico, o nosso espaço aéreo está também condicionado, praticamente encerrado e agora há um bloqueio à venda do nosso petróleo. Isto são prelúdios de momentos ainda mais difíceis para breve", disse.
Cautelosa no falar, Adelaide Suarez, empregada de escritório, confessa-se "angustiada" e "incomodada" porque "quando há conflitos os povos são quem mais sofre".
"Nem com o Natal a aproximar-se nos dão paz. Não vejo nada de bem em privar um povo dos seus recursos, isso poderá representar submetê-lo a privações, necessidades e à miséria. É absurdo que nos estejam sempre a castigar, mesmo utilizando sempre a desculpa de que querem o que é melhor para nós", disse.
Edmundo Garcia, informático, explicou que "a Venezuela é um país que regista uma das maiores inflações do mundo, o simples anúncio de um bloqueio total à exportação de petróleo venezuelano, dá motivos para gerar escassez de produtos, que os preços subam ainda mais".
"A outra coisa que me vem à mente é a situação do combustível. Nós no passado já passámos momentos complicados com as sanções e em que tivemos de importar gasolina do Irão, porque não produzimos suficientemente, agora se houver um bloqueio total tudo será mais difícil", disse.
O Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou terça-feira que Washington vai impor um bloqueio "total e completo" a todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela.
"Hoje, estou a ordenar um bloqueio total e completo de todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela", frisou o republicano através da sua rede social, a Truth Social, uma medida que atinge a principal fonte de receitas de Caracas, o petróleo.
Trump acusou o regime do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de utilizar o petróleo para "se financiar a si próprio, ao tráfico de droga, ao tráfico humano, a assassinatos e raptos".
"A Venezuela está completamente cercada pela maior armada alguma vez reunida na história da América do Sul. Ela só tende a crescer, e o choque para eles será algo sem precedentes --- até que devolvam aos Estados Unidos da América todo o petróleo, terras e outros bens que nos roubaram", frisou.
"Pelo roubo dos nossos bens e por muitos outros motivos, incluindo terrorismo, tráfico de droga e tráfico de pessoas, o regime venezuelano foi designado como uma organização terrorista estrangeira. Por isso, hoje, estou a ordenar um bloqueio total e completo de todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela", acrescentou.
A medida de Trump surge num momento de aumento das tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, com as forças militares norte-americanas a terem mobilizado tropas significativas em torno da república bolivariana.
O Governo norte-americano acusa o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, reeleito em 2024 após uma eleição cujos resultados foram contestados pela comunidade internacional, de controlar uma vasta rede de narcotráfico.
Maduro nega veementemente estas acusações, alegando que Washington as utiliza como pretexto para o derrubar e se apoderar das vastas reservas de petróleo do país.