Os novos desafios da advocacia portuguesa
Nos últimos anos, a advocacia portuguesa recuperou algo que nunca deveria ter perdido: seriedade institucional. Depois de um período marcado por tensões internas, politização excessiva e alguma dispersão estratégica, a Ordem dos Advogados reencontrou o seu eixo. Muito desse mérito pertence ao atual Bastonário, Dr. João Massano, cuja liderança ainda que curta e discreta, e firme e centrada na defesa da classe devolve a espaços a estabilidade e respeito à instituição.
Também na Madeira se sente essa mudança, através do trabalho consistente e próximo do Dr. Artur Jorge Batista, que tem sabido representar os advogados madeirenses com rigor, disponibilidade e sentido de missão. Uma nova e antiga lógica na defesa da classe . É uma Ordem menos ruidosa, mas muito menos politizada e mais focada no essencial: dignificar quem trabalha diariamente na defesa dos direitos dos cidadãos.
A advocacia portuguesa vive, ainda assim, um dos períodos mais desafiantes das últimas décadas. Não porque faltem causas, conflitos ou problemas jurídicos, mas porque o contexto em que exercemos mudou profundamente. A tecnologia, a massificação da litigância, a perda de autoridade institucional e uma transformação social acelerada estão a redesenhar o lugar do advogado na sociedade.
Durante anos, a Ordem deixou-se contaminar por uma excessiva politização interna. Bastonários e não só, mais atentos ao palco partidário do que à defesa estrutural da profissão afastaram do meu ponto de vista, a OA da sua missão essencial: proteger o exercício digno e independente da advocacia. Esse desvio fragilizou a imagem pública do advogado e abriu espaço a que outros ocupassem o terreno que era, naturalmente, nosso.
Hoje assiste-se a um rumo inverso. Ainda bem !
O atual Bastonário, Dr. João Massano, tem procurado recentrar a Ordem naquilo que verdadeiramente importa: a dignidade da profissão, a defesa das condições de exercício, o reforço da ética e a aproximação à sociedade civil — sem ruído político, sem protagonismos, sem agendas externas. Esse regresso à sobriedade institucional era urgente. E tem sido notado.
Mas os desafios permanecem. Em muitas áreas, a tecnologia substitui tarefas antes nossas: plataformas automatizam contratos, pedidos administrativos, registos e até litígios simples. A IA produz minutas, gere informação e antecipa riscos. Ela não elimina o advogado que pensa, decide e cria confiança — elimina o advogado que executa tarefas mecânicas.
Somam-se as dificuldades de um mercado fragmentado: mais advogados, menos litigância tradicional, honorários pressionados, clientes mais exigentes e menos pacientes. A advocacia generalista está a desaparecer. O futuro pertence a quem se especializa, domina tecnologia e compreende a realidade económica.
A advocacia não está a morrer. Está a evoluir. E nem sempre bem.
Retiram-nos o trabalho que é assim sem se acrescentar qualquer valor; permanece o trabalho que exige inteligência, estratégia e responsabilidade e muitas vezes sem qualquer reconhecimento .
Com uma liderança institucional madura — como a que hoje existe — e com advogados preparados para um mundo que não espera por ninguém, continuaremos a ser indispensáveis à justiça e à democracia, e esse factor tem de ser valorado. Sem advogado não pode haver Justiça.
Disse.