Ambiente e sustentabilidade em discussão
Estas organizações lançam um alerta claro: não basta conhecer os problemas, é necessário agir
No meio do Atlântico, a Madeira destaca-se não só pelas suas paisagens deslumbrantes e clima ameno, mas também pela riqueza e fragilidade dos seus ecossistemas. Ilhas oceânicas como a nossa têm uma biodiversidade única, contudo são particularmente vulneráveis a pressões humanas e ambientais. A poluição luminosa, o lixo marinho e os grandes impactos do turismo são alguns dos problemas que ameaçam o nosso ecossistema insular. As nossas ilhas constituem um oásis a 700 quilómetros da costa continental mais próxima. Neste ecossistema temos as aves marinhas e outras espécies das zonas costeiras ou que habitam os mares circulares do arquipélago, tais como, tartarugas e lobos-marinhos.
É aqui que entram organizações não governamentais como a SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves – e a Ocean Devotion, que não se limitam a observar, atuando diretamente, todos os dias, na proteção do ambiente e na sensibilização da sociedade, por meio de ações de voluntariado e projetos de consciencialização da população.
Por vezes é uma tarefa muito difícil, devido aos vários obstáculos para conseguir sensibilizar o público e ao mesmo tempo passar a mensagem certa.
A falta de disponibilidade das pessoas, que trabalham longas horas ou que têm compromissos familiares, o desconhecimento destas várias iniciativas, que não chegam a todos os cidadãos principalmente fora das zonas urbanas são fatores que dificultam a disseminação da mensagem e a sensibilização da comunidade. Pensar que não é connosco e deixar os outros fazer, que se tenha perceção de que a ação individual não é necessária é dos comportamentos que mais contribui para o afastamento do público da causa ambiental. Certo é que não existe forma de saber qual é a raiz da falta de atenção da comunidade, por isso estas organizações publicitam iniciativas e campanhas através de partilhas nos meios de comunicação tradicionais e nas redes sociais.
Apesar de todos estes obstáculos, estas organizações promovem, com muita regularidade, uma grande variedade de iniciativas. Entre elas, “mega apagão” idealizado pela SPEA, propõe-se reduzir a poluição luminosa e proteger as aves juvenis. Das espécies mais afetadas, as cagarras ficam desorientadas devido à grande quantidade de luzes do tipo LED que geram ambientes de grande intensidade luminosa nas zonas costeiras, habitacionais e hoteleiras. Esta organização promove programas de voluntariado em que o comum cidadão pode resgatar aves e participar em ações de monitorização. Como explica Elisa Teixeira, assistente de gestão de projetos da SPEA na Madeira: “O ativismo ambiental não é um luxo; é uma responsabilidade de todos. Cada ação conta para proteger as espécies e os seus habitats”.
Na vertente marinha, a Ocean Devotion luta diariamente contra o lixo costeiro e plástico nos oceanos. Limpeza de praias, monitorização de golfinhos e campanhas educativas, como a “Da Costa ao Convés”, mostram que a participação da comunidade é de extrema importância. Desde 2021, mais de 14 toneladas de lixo marinho foram removidas das costas da ilha da Madeira, graças a estes projetos, provando que cada gesto, por mais pequeno que pareça, tem um impacto positivo real no ambiente.
Estas organizações lançam um alerta claro: não basta conhecer os problemas, é necessário agir. Participar em ações de voluntariado, apoiar campanhas, reduzir o consumo de plástico ou simplesmente fazer a separação correta do lixo são passos que qualquer cidadão pode dar. A preservação dos habitats na Madeira, depende da colaboração entre investigadores, organizações e maioritariamente da população local, sendo que cada um pode contribuir para garantir um futuro sustentável.
O apelo é direto. A proteção das aves, das praias e dos oceanos não é uma tarefa isolada, mas uma missão de todos.