Exposição presta homenagem a 80 crianças vítimas de violência em Santa Cruz
A Casa da Cultura de Santa Cruz inaugurou esta terça-feira uma exposição que dá corpo a estatísticas alarmantes: 80 figuras ocupam o jardim, representando o número exacto de crianças sinalizadas no concelho por exposição a violência doméstica em 2024.
Inserida no âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Direitos das Crianças e do Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, a exposição intitulada 'Pai, pára!' pretende ser um alerta visual para a comunidade e um apelo à criação de lares seguros.
Quem passa pelo jardim da Casa da Cultura encontra agora 80 figuras de crianças, desenhadas pela artista Rafaela Rodrigues. Estas silhuetas não são meramente decorativas; correspondem aos 34 meninos e 46 meninas sinalizados este ano à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Santa Cruz. A mostra assume-se como uma homenagem à resiliência destas vítimas e uma exigência de mudança.
A cerimónia de inauguração contou com a presença de Joana Martins (UMAR), Telma Nascimento (CPCJ), Júlia Caré (Conselho Municipal para a Igualdade) e da Presidente da Câmara de Santa Cruz, Élia Ascensão, que uniram vozes na necessidade urgente de ação.
Durante a sua intervenção, Élia Ascensão aludiu à forma como a violência doméstica, tradicionalmente um crime de "quatro paredes", ganhou recentemente visibilidade mediática através de imagens captadas por videovigilância.
“Fomos obrigados a ver o que apenas imaginávamos, a ouvir o que apenas intuíamos, a nos confrontarmos com a brutalidade na sua forma mais infame”, salientou a autarca, alertando que a indignação não se deve resumir a casos mediáticos isolados.
A presidente da autarquia realçou a dimensão do problema no concelho, traduzido nas peças expostas: “Aquele grito, pelos números presentes nesta exposição, é o grito de 80 crianças que em 2024 foram sinalizadas por violência doméstica. 80 crianças para as quais a infância é um território de medo e silêncio, 80 crianças que gritam um “pára”, que, mesmo quando não é filmado, gravado e reproduzido, deve ser um grito que nos deve abalar profundamente, ainda que ecoe apenas no silêncio da casa, na privacidade do que devia ser um lar.”
Para Élia Ascensão, este choque com a realidade deve ser o motor para proteger os mais vulneráveis, defendendo que “uma sociedade que falha a resposta a este grito, é uma sociedade que falha nos seus mecanismos e nos seus propósitos”.
O Município de Santa Cruz reforçou o seu compromisso continuado através do Conselho Municipal para a Igualdade e do apoio ao movimento associativo, garantindo que o combate à violência de género não se esgota em datas comemorativas.