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Milhares de checos manifestam-se em Praga contra Andrej Babis

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Foto EPA

Milhares de checos concentraram-se hoje em Praga para celebrar a Revolução de Veludo e acusaram o vencedor das eleições legislativas, Andrej Babis, de querer trair o legado da transição para a democracia na República Checa.

Na Eslováquia, também estão agendados para hoje, mais tarde, protestos contra o primeiro-ministro, Robert Fico.

A 17 de novembro de 1989, o Governo comunista checoslovaco reprimiu uma marcha pacífica, desencadeando uma contraofensiva que derrubou o regime pró-Moscovo, após quatro décadas de ditadura.

Esta revolução restaurou a democracia na Checoslováquia, que posteriormente, em 1993, se dividiu em República Checa e Eslováquia, tendo ambos os países aderido em 2004 à União Europeia (UE).

Uma parte da população checa opõe-se ao multimilionário Andrej Babis, que obteve a maioria dos votos nas eleições legislativas de outubro e está a tentar formar Governo com dois partidos eurocéticos.

A manifestação no centro de Praga decorreu sob o lema "A República Checa não está à venda", e eram numerosos os cartazes e as faixas hostis a Babis.

"Não quero perder as liberdades que conquistámos", declarou Jachym Prokop, um estudante de 19 anos com uma bandeira da União Europeia aos ombros, citado pela agência de notícias francesa AFP.

Andrej Babis "está a levar-nos para o Leste em vez de para o Ocidente", acrescentou.

Em 2019, este mesmo movimento mobilizou 250 mil pessoas contra Babis durante o seu primeiro mandato, num país de 10,9 milhões de habitantes.

Mas o multimilionário de 71 anos - admirador do Presidente norte-americano, Donald Trump, e aliado do partido de extrema-direita checo, SPD - ganhou as eleições pela segunda vez em outubro e está a formar o seu executivo para voltar a governar o país.

Ofereceu a presidência do parlamento ao líder do SPD, Tomio Okamura, que está a ser processado por incitação ao ódio, e ele próprio, um ex-comunista, é acusado de fraude com subsídios europeus, embora negue qualquer irregularidade e afirme ser vítima de uma campanha difamatória.

Segundo um dos organizadores do protesto de hoje, Mikulas Minar, o novo Governo checo assentará, portanto, num provável "pacto mafioso", com dois indiciados por crimes em posição de oferecer um ao outro imunidade judicial.

Na Eslováquia, é contra o primeiro-ministro, Robert Fico, que se mobilizam os opositores em várias cidades, incluindo a capital, Bratislava.

O dirigente, regressado ao poder em 2023, "está a adotar medidas contrárias à democracia, que nos levam de volta ao período anterior a 1989", sustentou um dos organizadores do protesto, Marian Kulich.

Robert Fico, de 61 anos, também ele ex-comunista, está a cumprir o seu quarto mandato, graças ao apoio do partido de extrema-direita eslovaco, SNS.

"Os nossos líderes pertencem à mesma clique de pessoas que se revezam nos cargos", lamentou o reformado Slavomir Chorvat.

Seguindo o exemplo da vizinha Hungria, Robert Fico está a reprimir as organizações não-governamentais (ONG), a substituir as elites culturais e a minar a independência da comunicação social.

Também reaproximou a Eslováquia da Rússia, apesar da invasão russa da Ucrânia, país que se recusa a apoiar.