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Madeira

“O amor existe; ele é sempre reflexo da presença de Deus”

D. Nuno Brás celebrou, este domingo, o Jubileu da Solidariedade

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D. Nuno Brás dedicou, este domingo, a homilia do Jubileu da Solidariedade, que se celebrou na Sé do Funchal, ao amor, nomeadamente ao amor de Deus. “O amor existe. Ele é sempre reflexo da presença de Deus, porque «Deus é amor»”, afirmou.

Na sua homilia, o Bispo do Funchal afirmou que, “por muito surpreendente e indevido que seja, o amor existe, está presente no mundo, no nosso mundo”, referindo-se ao “amor de Deus, que atravessa lugares e tempos e se torna próximo, presente, actuante por meio do seu Espírito criador, renovador e santificador”.

É este mesmo amor de Deus que, depois, se torna presente em tantos gestos, atitudes, vontades. É o amor dos casais e dos pais. É o amor dos irmãos e familiares. É a amizade e a simples gentileza. Mas é, igualmente, o modo como desempenhamos as nossas tarefas profissionais ou nos empenhamos na construção do nosso viver social. D. Nuno Brás

D. Nuno Brás considera que o nosso mundo está diferente porque o amor está presente e actua nele. Trata-se de um amor que julga e condena: “não o pode evitar. Ele estabelece a diferença entre pecado e bondade. O amor é o critério que permite fazer a distinção entre o belo e o feio, o bom e o mau, o bem do próximo e o egoísmo, a virtude e o pecado”.

“O amor e a sua presença no nosso mundo, ainda que por vezes nos custe encontrá-lo (esta procura é já fruto da sua presença) mostra que é, de verdade, possível fazer distinção. E distinção objectiva. Mostra que nem tudo tem o mesmo valor, que é necessário conjugar a boa intenção a uma acção objectivamente boa — quer dizer: que não basta ter boas intenções, mesmo quando as obras são más; ou que não bastam boas obras, ainda que produzidas por íntimos perversos”, aponta.

No fundo, para o Bispo do Funchal, o amor é luz que ilumina, e iluminando julga, e julgando faz desaparecer a escuridão.

Na ocasião, fez ainda questão de recordar alguns dos princípios essenciais da acção sócio-caritativa, anunciados enunciados pelo Papa Bento XVI na sua Encíclica ‘Deus é amor’:

a) “A sociedade justa não pode ser obra da Igreja; deve ser realizada pela política. Mas toca à Igreja, e profundamente, empenhar-se pela justiça, trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem” (DCE 28).

b) “O amor será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem” (DCE 28);

c) “A Igreja é uma das forças vivas [da sociedade]: nela pulsa a dinâmica do amor suscitado pelo Espírito de Cristo. Este amor não oferece aos homens apenas uma ajuda material, mas também refrigério e cuidado para a alma — uma ajuda muitas vezes mais necessária que o apoio material” (DCE 28).

d) “O dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos fiéis leigos. Estes, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente na vida pública” (DCE 29).

e) “A Igreja nunca poderá ser dispensada da prática da caridade enquanto actividade organizada dos crentes, como aliás nunca haverá uma situação onde não seja precisa a caridade de cada um dos indivíduos cristãos, porque o homem, além da justiça, tem e terá sempre necessidade do amor” (DCE 29).

f) “A caridade cristã é, em primeiro lugar, a resposta àquilo que, numa determinada situação, constitui a necessidade imediata: os famintos devem ser saciados, os nus vestidos, os doentes tratados para se curarem, os presos visitados, etc” (DCE 31)

g) “A actividade caritativa cristã deve ser independente de partidos e ideologias. Não é um meio para mudar o mundo de maneira ideológica, nem está ao serviço de estratégias mundanas, mas é actualização aqui e agora daquele amor de que o homem sempre tem necessidade” (DCE 31).

h) “Além disso, a caridade não deve ser um meio em função daquilo que hoje é indicado como proselitismo. O amor é gratuito; não é realizado para alcançar outros fins. Isto, porém, não significa que a acção caritativa deva, por assim dizer, deixar Deus e Cristo de lado. Sempre está em jogo o homem todo” (DCE 31).