O amor tranquilo
Gostar aos 20 não é o mesmo que gostar aos 40. Todo o percurso da nossa vida é construído em cima de fases, marcadas por situações, momentos e pessoas. Uma construção que aprende com o que passámos, o que vivemos e o que nos trouxe até aqui. Essa experiência ensina-nos a lidar com os outros com maior leveza, uma tranquilidade serena que nos transporta para uma forma de estar e de nos relacionarmos com os outros com outro olhar. Não muda a força dos sentimentos nem a razão de ser, muda a forma como o concretizamos. Aos 20 parece que tudo é definitivo e tudo é urgente. A ansiedade com que esperamos uma validação e as respostas que procuramos levam-nos para uma instabilidade emocional que muitas vezes se reflete na concretização dos nossos desejos. Uma certa insegurança relacionada com o facto de estarmos menos preparados para compreender os que nos rodeiam e as suas intenções. É por isso muito mais fogo e menos luz mais coração e menos razão. Depois percebemos que tudo tem o seu tempo que há coisas que não tinham que ser e que quando se fecha uma porta outras se apresentam entreabertas para nos levar para outros caminhos e diferentes emoções.
Há quem lhe chame maturidade, eu chamo-lhe a chegada do amor tranquilo. Aquele que nos chega de uma forma leve e segura, que nos faz acreditar que gostar pode entender diferentes dimensões e comportar um comportamento feito de equilíbrios sem perder a força da vontade e o entendimento que nos faz aproximarmo-nos de alguém. Não se quebra a intensidade nem se afasta a paixão, não se diminui o risco nem a esperança de uma nova oportunidade, antes se encaram as atitudes com um espirito mais assertivo, respeitando os tempos e os compassos, vivendo um momento de cada vez e aproveitando cada um deles com maior profundidade. Passamos do tudo ou nada, do ou é assim ou não é para uma construção mais aberta com respeito por quem está do outro lado e pelo que o outro vive também. Menos egoísta mais ligado à cumplicidade, menos sôfrego e talvez mais sincero. Estamos com o passar da vida mais capacitados para perceber e dar valor à magia dos relacionamentos sem inevitabilidades de nos darmos a conhecer com maior sinceridade e sem grandes espaços para jogos ou truques.
O amor dentro da sua complexidade não perde a sua força nem a sua determinação por não precisarmos de tudo de uma vez só. Não se esgota na irracionalidade nem se apaga por sabermos lidar com ele com um olhar mais atento e pacificador. Damos valor às conversas e às pequenas coisas, colecionamos momentos perfeitos em cada bocadinho de tempo e lidamos com atitudes e razões de ser com uma tranquilidade bonita, apreciamos coisas que antigamente nem víamos, aprendemos a dar espaço e a conquistar o nosso espaço com uma sabedoria que nos traz a inteligência emocional muitas vezes só conquistada com a idade. Não se deixa de gostar com força, nem se perdem os sonhos, antes se procuram concretizá-los sem tempos mortos ou palavras vazias. É por isso uma excelente idade para gostar, para construir em conjunto e para nos entregarmos com a certeza de que já não há espaço para perder tempo com o que não nos acrescenta.
Saber apreciar essa condição e dar espaço para que ela cresça torna-se assim uma razão para nos darmos a conhecer melhor e para estarmos mais preparados para conhecer os outros. Sem subterfúgios ou mentiras, sem caminhos enviesados ou intenções dúbias. Fazemos porque queremos, gostamos porque nos identificamos e insistimos porque acreditamos que vai realmente valer a pena. De uma forma leve com um amor tranquilo.
Frases Soltas:
O diretor geral da BBC e a diretora da BBC News demitiram-se depois da recente polémica em que a estação de televisão britânica emitiu um programa editado e truncado sobre Trump pouco antes das eleições em que o presidente americano aparecia a incentivar à invasão que se veio a suceder no capitólio. Num mundo recheado de fake News nem os meios supostamente mais isentos escapam. Já não sabemos em quem acreditar.
Esta semana marca o início das iluminações de Natal um pouco por todo o país. Será certamente uma boa altura para passearmos pelas ruas do nosso país e apreciar com os mais novos o espetáculo visual. Mesmo com algumas escolhas de gosto duvidoso é uma tradição que se vai mantendo e que nos proporciona um pouco mais de cor às nossas noites.