Quem é o ‘Johny Bigodes’?
Variantes do nome de utilizador ‘Johny Bigodes’ multiplicam-se nas diferentes redes sociais. Um pseudónimo colectivo que invadiu a Internet portuguesa e começa a causar algum alarme social. A Iniciativa CpC: Cidadãos pela Cibersegurança alerta para a “ambiguidade que protege o ‘troll’ de consequências”, acusando estas contas de gerar desinformação.
‘Johnny Bigode’, na sua origem, foi a personagem encarnada por António Feio, no concurso da SIC ‘Ai, os Homens’, exibido entre 1996 e 1999. Desconhece-se o porquê da adopção deste nome por parte de uma fatia da comunidade online portuguesa, para a qual ‘Johny Bigodes’ funciona como um pseudónimo colectivo, à semelhança de outros fenómenos internacionais, como o ‘John Doe’ ou o uso da máscara de Guy Fawkes pela Anonymoys.
Num texto intitulado ‘Johny Bigodes: anatomia de um pseudónimo troll da Internet Portuguesa’, a Iniciativa CpC: Cidadãos pela Cibersegurança teoriza que este fenómeno se insere “numa tradição portuguesa de humor popular que sempre usou personagens-tipo para satirizar a sociedade". Lembra, por exemplo, o ‘Gajo de Alfama', de Ricardo Araújo Pereira, no Gato Fedorento.
“Os bigodes evocam imediatamente figuras do imaginário nacional”, explica, para acrescentar que “esta associação cultural serve um propósito estratégico, ao escolher um nome que remete para o folclórico e o caricatural, o utilizador cria uma camada de ironia defensiva.” A Iniciativa CpC acusa estes utilizadores com variantes de ‘Johny Bigodes’ de “semear caos e desinformação sem agenda clara para além de criticar de forma estéril”.
Uma caricatura utilizada, portanto, para “testar os limites de moderação de plataformas” online, “amplificar artificialmente certas narrativas ideológicas ou políticas”, e “criar a ilusão de consenso popular”. A ambiguidade do anonimato “protege o troll de consequências, tornando difícil distinguir entre a provocação inofensiva e a manipulação deliberada”.
Esta despersonalização tem vantagens tácticas para quem usa este método de despersonalização. Quando não há rosto, não há responsabilização. Quando há dezenas de ‘Johny Bigodes’, não há forma de identificar padrões de comportamento individuais. Iniciativa CpC
A utilização de variantes do mesmo nome dá a impressão de se tratar de um grupo organizado, ao passo que o humor é “uma estratégia deliberada”, utilizada para baixar as defesas do interlocutor, administrador, ou mesmo do próprio alvo. “É mais difícil levar a sério ameaças ou discurso de ódio quando vêm de um brincalhão com o nome ‘Johny Bigodes’”, afirma.
Factor comédia que pode, também, complicar processos judiciais. “Advogados e plataformas têm dificuldade em argumentar que ‘Johny Bigodes’ causa dano real quando o próprio nome sugere paródia”, atesta a Iniciativa CpC, que considera que a normalização deste tipo de pseudónimos tem consequências. Aponta, entre elas, a degradação do debate público, a fadiga de moderação, a normalização de extremismos e a erosão da confiança.
Quando personagens supostamente caricatas como estes ‘Jonhy Bigodes’ dominam discussões e os debates online, o nível de argumentação baixa. Questões sérias são tratadas com troça, factos são substituídos por provocações gratuitas com vista a paralisar ou emudecer o adversário ou vítima. Iniciativa CpC
Para a Iniciativa CpC o problema do ‘Johny Bigodes’ passa pelo “anonimato percepcionado sem responsabilidade nas plataformas digitais”. O objectivo não será, então, banir pseudónimos, mas “construir culturas digitais onde o disfarce cómico não seja passaporte para impunidade”. Como possíveis contra-medidas sugere a verificação de identidade, moderação mais eficaz com atenção para a ironia, contexto e nuance, e educação digital.
“A longo prazo, a solução mais sustentável é ensinar literacia mediática”, que permita reconhecer tácticas de manipulação, verificar fontes, e não amplificar provocações óbvias, conclui a Iniciativa CpC: Cidadãos pela Cibersegurança.