O meu obrigado à flotilha
Com tantos artigos de opinião, debates, entrevistas e reportagens sobre a Flotilha “humanitária”, bem cedo perdi a vontade de escrever sobre o assunto já que mais nada iria acrescentar às opiniões manifestadas. Porém, à medida que se começaram a ouvir os relatos dos activistas, desde a interceptação israelita até a sua chegada a Lisboa, comecei a fazer algumas analogias com cenas de filmes bíblicos que eram a minha grande paixão na juventude. Começou logo com os telefonemas e mensagens enviadas pelos telemóveis atirados ao mar, disseram eles. Aqui, associei a cena em que Moisés estendeu o seu cajado sobre o Mar Vermelho e abriu as águas para os israelitas passarem sem se molharem, tal e qual como os telemóveis dos activistas que continuaram a funcionar. De seguida, recordei o milagre da multiplicação dos pães e peixes quando passadas cerca de 12 horas, os activistas também usaram a multiplicação alegando que se tinham passado 48 horas. Por fim, mais um milagre bíblico me veio à memória. “Levanta-te e anda” diz Jesus ao paralítico demonstrando o seu poder de cura e perdão. Aqui, é a analogia com activistas diabéticos, hipertensos e até cancerosos que com a medicação apreendida pelas autoridades, regressaram sãos e salvos. Neste caso, ateus ou agnósticos vão discordar por não acreditarem em milagres. Por outro, os crentes na naturopatia que vão aproveitar para dizerem que a medicação é uma treta dos laboratórios e da classe médica. Só me resta o meu grande obrigado à flotilha por me ter feito recordar os meus tempos de cinéfilo e da juventude.
Jorge Morais