Grupos políticos deixam críticas à Comissão Europeia mas moções de censura devem ser rejeitadas
As moções de censura no Parlamento Europeu contra a Comissão Europeia deverão ser chumbadas na quinta-feira, com os principais grupos políticos a rejeitarem aprová-las, apesar de deixarem críticas à líder do executivo, Ursula von der Leyen.
Depois de ouvidos os argumentos dos proponentes das moções, o Patriotas pela Europa (extrema-direita) e a Esquerda, o presidente do Partido Popular Europeu (PPE, do qual fazem parte PSD e CDS-PP e é o grupo político de Ursula von der Leyen), Manfred Weber, disse esperar que a extrema-direita e a esquerda "tenham material multimédia suficiente para a campanha eleitoral em França".
Pelos dois grupos políticos intervieram Jordan Bardella, presidente da União Nacional (extrema-direita, associado à líder histórica Marine Le Pen), e Manon Aubry, do partido França Insubmissa (esquerda).
Manfred Weber criticou os dois grupos políticos presentes no Parlamento Europeu por, na sua opinião, desmerecerem aquela instituição, considerando que utilizaram com leviandade a moção de censura, "um instrumento que é muito importante".
"Não vamos aceitar isto (...), apoiamos a nossa Comissão", comentou, acrescentando que anotou que "a extrema-direita e a extrema-esquerda uniram esforços" e sugeriu que deveriam criar um só grupo político: "o WAA, We Are Against ("Nós Somos do Contra), é o que vocês são."
Já Iratxe García, presidente dos Socialistas & Democratas (S&D, de que faz parte o PS), também rejeitou unir-se às moções de censura apresentadas, mas criticou o silêncio de Ursula von der Leyen perante "o genocídio que [Benjamin] Netanyahu [primeiro-ministro de Israel] perpetrou contra a população palestiniana" e que "fechou os olhos quando as famílias mais esperavam, pedindo apoio para a habitação".
"Quero deixar algumas mensagens claríssimas (...), a senhora não é a Europa, eu também não; a Europa não é este edifício e também não é o Berlaymont (edifício da Comissão Europeia em Bruxelas); a Europa são todos os cidadãos, por isso exijo-lhe que ouça as vozes de centenas de milhares de pessoas em Amesterdão, Madrid, Milão, por toda a Europa, pedindo o fim do genocídio", completou Iratxe García.
A socialista espanhola, olhando para a presidente da Comissão Europeia, disse que "sem o papel do S&D nunca teria ido tão longe".
Dirigindo-se à Esquerda, Iratxe García lamentou que "há muito deixou de negociar" no Parlamento Europeu.
E voltando a olhar para Ursula von der Leyen, a líder socialista disse que a líder do executivo comunitário "tem de escolher" e, ao escolher, é obrigada a "cumprir com as promessas que fez".
Pelos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR, entre a direita convencional e a extrema-direita, mas de tendência mais radical), o italiano Nicola Procaccini (do partido Irmãos de Itália, o mesmo da primeira-ministra Giorgia Meloni) criticou apenas a proposta da Esquerda, considerando que nada dizia sobre a União Europeia (UE) e que só estava centrada na inação da Comissão Europeia relativamente à invasão israelita de Gaza.
A presidente dos liberais do Renovar a Europa, a eurodeputada francesa Valérie Hayer (do partido Renascimento, do Presidente francês, Emmanuel Macron) criticou as duas moções dos "dois extremos que têm pontos de contacto, dos engenheiros do caos".
Valérie Hayer também apontou o dedo à Comissão Europeia em exercício, questionando as razões da não aplicação das medidas inscritas no relatório do ex-primeiro-ministro italiano Mario Draghi sobre o futuro da competitividade europeia, encomendado pelo próprio executivo comunitário.
Segundo a representante, um ano depois, apenas uma percentagem pequena do relatório foi implementado.
Já os Verdes, através de Terry Reintke, criticou o abandono da política climática, com a dilatação dos prazos, depois de Ursula von der Leyen auscultar várias áreas da indústria, nomeadamente a automóvel.
A eurodeputada da Alemanha também disse que a Comissão Europeia parecia uma "galinha sem cabeça" e rejeitou a "simplificação burocrática" na qual o executivo comunitário tem insistido, considerando que acaba por prejudicar ainda mais a competitividade, com tantas coisas para alterar.
As duas moções de censura são votadas na quinta-feira, no último dia da sessão parlamentar desta semana em Estrasburgo, em França.