Cubano deportado pelos EUA para Essuatíni em greve de fome contra detenção
Um cidadão cubano deportado pelos Estados Unidos para o Essuatíni iniciou uma greve de fome contra a sua detenção numa prisão de segurança máxima neste país da África Austral, anunciou hoje a sua advogada.
Roberto Mosquera del Peral foi um dos cinco homens enviados para este país em meados de julho como parte do programa de deportação dos EUA para a África, que tem sido criticado por grupos de direitos humanos e advogados.
Além de Mosquera, no grupo encontravam-se cidadãos da Jamaica, Laos, Vietname e Iémen.
Estes homens enviados para o Essuatíni eram criminosos condenados por crimes graves, incluindo assassínio e violação, e estavam nos EUA ilegalmente, disse o Departamento de Segurança Interna dos EUA.
De acordo com a mesma fonte, Mosquera tinha sido condenado por homicídio e outras acusações e era membro de um gangue.
Os advogados dos deportados, por sua vez, disseram que todos cumpriram as suas penas criminais nos EUA e estão agora detidos ilegalmente no Essuatíni, onde não foram acusados de qualquer delito.
O Departamento de Segurança Interna dos EUA apresentou o programa de deportação para países terceiros como um meio de remover "estrangeiros ilegais" de solo norte-americano, como parte da repressão à imigração do Presidente dos EUA, Donald Trump, dizendo que eles têm a escolha de se auto-deportar ou serem enviados para um país como o Essuatíni.
Segundo os advogados, os deportados para o Essuatíni estão a ser impedidos de ter um processo legal e estão expostos a abusos de direitos humanos.
O cidadão cubano está há três meses detido em Matsapha, fora da capital administrativa, Mbabane, sem acusação ou acesso a aconselhamento legal, referiu a sua defesa e, por isso, iniciou há uma semana uma greve de fome.
"O meu cliente está arbitrariamente detido, e agora a sua vida está em perigo", disse a advogada nos EUA, Alma David.
"Insto os serviços prisionais do Essuatíni a fornecerem à família do senhor Mosquera e a mim uma atualização imediata sobre a sua condição e a garantirem que está a receber atenção médica adequada. Exijo que o senhor Mosquera seja autorizado a encontrar-se com o seu advogado no Essuatíni", acrescentou.
O Essuatíni é uma monarquia absoluta governada por um rei acusado de reprimir os direitos humanos.
O Governo deste país tinha assegurado que os homens seriam repatriados, mas não indicou um prazo.
Consequentemente, grupos cívicos no país levaram as autoridades a tribunal para contestar a legalidade da detenção de cidadãos estrangeiros sem acusação.
Por seu turno, as autoridades dos EUA já anunciaram querer deportar mais um imigrante para este país, Kilmar Abrego Garcia, de El Salvador, na América central.
A administração Trump deportou cidadãos para pelo menos três outras nações africanas --- Sudão do Sul, Ruanda e Gana --- desde julho, sob acordos em grande parte secretos. Tem também um acordo de deportação com o Uganda, embora não tenham sido anunciadas deportações para lá.
Segundo a Organização Não-Governamental Human Rights Watch (HRW), os EUA estão a pagar milhões de dólares a estas nações africanas para aceitarem os deportados.
A HRW indicou que Washington pagou ao Essuatíni 5,1 milhões de dólares (cerca de 4,4 milhões de euros) para receber até 160 pessoas e ao Ruanda 7,5 milhões de dólares (cerca de 6,5 milhões de euros) para receber até 250 imigrantes deportados.
Outros dez deportados foram enviados para o Essuatíni este mês e acredita-se que estejam detidos no mesmo complexo de Matsapha.
Os advogados disseram que esses homens são do Vietname, Camboja, Filipinas, Cuba, Chade, Etiópia e República Popular do Congo.