"Liga dos Combatentes é já dirigida 90%" por aqueles que "fizeram as operações de paz humanitárias"
Durante o programa Bola no Ar, na TSF-Madeira, que hoje recebeu antigos militares, dois generais, um tenente-coronel e um coronel
O programa 'Bola no Ar', que é transmitido aos domingos pela TSF-Madeira, recebeu hoje antigos combatentes e militares com muito para contar e que são alguns dos muitos membros da Liga dos Combatentes. Da conversa, sobretudo com o General Rui Tendeiro, que acaba de deixar o cargo de comandante operacional na Região, e o General Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga Nacional dos Combatentes. Apesar de a maioria ainda serem antigos combatentes do Ultramar, surge a novidade que a "Liga dos Combatentes é já dirigida 90%" por aqueles que "fizeram as operações de paz humanitárias".
Essa percepção de que são pertence apenas a militares, Chito Rodrigues frisou que "estamos a fazer uma transição tranquila". E explicou: "Nós temos um grande objetivo a longo prazo. Acabamos de fazer 100 anos de vida, começamos na Grande Guerra, uma grande história, passamos a Segunda Guerra Mundial com combatentes também expedicionários portugueses, tivemos 13 anos de guerra colonial, com cerca de um milhão de portugueses, muitos madeirenses, e, portanto, procuramos tudo isto. Agora estamos a fazer a transição para as operações de paz humanitárias."
Agora instalados num novo espaço, a Liga dos Combatentes precisa começar a trabalhar melhor na explicação "aos militares e aos sargentos e aos oficiais o que é a Liga dos Combatentes", defendeu o general, nomeadamente "o que faz a Liga dos Combatentes para que eles se tornem membros da Liga dos Combatentes. Há muitos elementos das Forças Armadas da Madeira que ainda não são sócios da Liga, deviam ter todos sócios da Liga dos Combatentes".
Mas foi mais longe: "Há alguns sócios, por vezes, que se esquecem de pegar as suas quotas também. Nós somos uma instituição abrangente da sociedade portuguesa. Qualquer cidadão pode ser sócio e membro da Liga dos Combatentes. Qualquer cidadão, desde que sirva os nossos objetivos. Nós temos sócios combatentes, sócios efetivos que cumpriram o serviço militar, sócios extraordinários, são as famílias desses sócios, e temos sócios apoiantes e depois os honorários e os beneméritos. Mas sócios apoiantes, qualquer cidadão que se reveja nos nossos objetivos, que são objetivos universais, acabei de dizer qual é a nossa missão, pode ser membro da Liga dos Combatentes."
O general Chito Rodrigues até deu exemplo recente da situação do Covid-19. "O nosso estatuto já tem décadas. Não fui eu que fiz o estatuto. Vou apelar a uma situação que se encontra no estatuto e que as pessoas devem ter conhecimento dela. Diz-lhe numa das nossas alíneas que justifica ser sócio combatente da Liga dos Combatentes. E uma diz assim, qualquer cidadão que em território nacional cumpre uma missão de segurança em Estado de sítio ou de emergência, a Liga dos Combatentes pode admiti-lo como sócio combatente. Agora acontece que durante a Covid nós tivemos 15 Estados de emergência. Foram promulgados 15 Estados de emergência. Ou seja, todo cidadão madeirense e nacional que atuou durante a Covid nessa função de segurança, da saúde das pessoas, bombeiros, proteção civil, PSP, GNR, pode ser sócio combatente. E nós temos já hoje, no continente, muita gente que, tendo sido atestado por alguém que ele esteve presente nessas missões, nós admitimo-lo como sócio combatente. Alguns até se transformam, podem passar de efectivos para combatentes, outros são admitidos como combatentes diretamente", explica.
Ex-combatentes a receber misérias anuais após 2 anos na guerra
Concordando com esta ideia, o general Rui Tendeiro disse que além de ser crucial garantir a continuidade da Liga, o apoio aos combatentes, o apoio às famílias é o que mais preocupa. "É que no âmbito da saúde, permita-me que entre um bocadinho dentro de tudo. Na Madeira também há problemas de alcoolismo. Na Madeira há problemas com essa dependência, na Madeira há problemas de sem abrigo, na Madeira há pessoas pobres, como é em todo o país", disse.
Mas estes "são os nossos amigos com quem tratámos e de quem todos os dias recebemos cartas, temos pedidos", frisou. E para Tendeiro, o que se passa com muitos sócios da Liga dos Combatentes reflete-se da pobreza do país. "Nós temos combatentes a ganhar-se 250 euros por mês. É pensão social, agora não são 250, são mais uns euros. O problema é que nós temos combatentes nessas circunstâncias. Quem os protege? A Liga dos Combatentes. Nós não queremos substituir o Estado. Também há aqui combatentes com stress pós-traumático e precisamos ter um gabinete de apoio a funcionar com médico e enfermeiro, que até já se disponibilizaram para trabalharem com a Liga dos Combatentes e apoiarem os combatentes. Temos lá um espaço, temos lá um gabinete, está tudo preparado", afiançou.
Mas vai ainda mais longe: "Porque temos que apoiar os combatentes da Madeira que necessitam de ser apoiados e que passam às vezes ao lado do apoio que são garantidos pela própria Madeira. Até tem melhores serviços do que tem o próprio país inteiro. Agora, nós temos uma missão a cumprir. Há gente que necessita, e nós temos um estatuto que saiu recentemente. Esse estatuto não tocou nas pensões desses combatentes que estão a ganhar 250 euros nem em 2002, nem em 2009, nem em 2020. E ainda ninguém aumentou esses 250 euros para aquilo que a Liga pede que seja um vencimento mínimo por mês. Não é com 250 euros, o combatente não merece esse tratamento pelo Estado.
Rui Tendeiro continua: "Porque os outros combatentes, desde 2002, que lhes foi estabelecido um direito, é um suplemento especial de pensão, o outro o Vitalício Especial de Pensão, tem outro nome, mas é um suplemento especial de pensão. Fixou-se em 175, 150 euros essa solução anual, anual, para quem esteve na frente de combate, na verdade, nas zonas mais perigosas, dois anos 75 euros, mais dois anos 100 euros, mais 150. Depois colocam-lhe o IRS em cima. Que é uma ajuda profissional. Mas o IRS em cima de 75, 100, 150, há combatentes a receber 36 euros por ano, porque eles estiveram dois anos na guerra, em situação de alta periculosidade. E parece anedota, mas é verdadeiro. E os que têm 100 de direito recebem 75 porque colocam o IRS em cima. Eu há anos que ando dizendo, tire-me o IRS daí, ao menos já melhora um pouco o suplemento especial de pensão. Mas ainda não se conseguiu."
Por isso, defende que esta situação deve ser revista para que passe a ser um vencimento mínimo por ano para esses combatentes. "Este governo, porque os outros não o fizeram, e o sr. ministro da Defesa Nacional, em meia dúzia de meses resolveu um problema que nós andávamos a pedir há anos, que é medicamentos gratuitos para os combatentes. Há anos que andávamos a dizer que deviam dar medicamentos gratuitos aos combatentes. Ora bem, este mês, aqui na zona da Madeira, ainda não, na região autónoma da Madeira, ainda não, portanto, deve estar a sair para a semana a Portaria, porque eu já tenho no meu bolso, no Serviço Nacional de Saúde, se eu for a uma farmácia, pago 50% de medicamentos. Porque sou sócio combatente, sou membro combatente, não é sócio, sou membro, sou combatente. Mas aqui na Madeira ainda vai só ser implementado, porque há uma divergência, não, uma diferenciação de tempo, aqui a legislação tem que ser adaptada àquela que sai no continente, e portanto só para a semana ou para outra isso vai acontecer", acredita.
Bola no Ar é um programa essencialmente de cariz desportivo, que é transmitido na TSF Madeira todos os Domingos no horário 11h15 às 13h00 na frequência 100FM, com moderação de Fernando Rodrigues e Emanuel Machado e som cuidado por João Dinarte.