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Crónicas

Um segredo de nome Ilha de Maio

Passar férias numa ilha deserta faz parte do ideário de qualquer pessoa. Penso que todos nós, em alguma altura da nossa vida sonhámos em partir para um espaço de terra rodeado de água, onde a vegetação se funde com a areia e os problemas ficam bem lá ao longe. Talvez a minha geração tenha esse formato ainda mais vincado muito à custa de filmes como “Lagoa Azul” em que tudo parece fácil e a água cristalina serve de espelho a um estilo de vida brindado pelo que a natureza nos oferece. Eu não fujo a essa regra. Sempre fui fascinado por ilhas, pelos microclimas tão únicos e pelo ar que se respira que parece ser diferente, para melhor. Tive a sorte de ter passado por várias, na América do Sul, Central mas sobretudo por África e de facto a atmosfera é fascinante. Gosto da forma como as pessoas se relacionam, a tranquilidade e a paz que se sente, a dicotomia água/vegetação e as temperaturas convidativas.

Sou um apaixonado pela ilha da Madeira, pelas ilhas Bijagós na Guiné Bissau e por São Tomé e Príncipe, Porto Santo e várias ilhas de Cabo Verde. Teria muita dificuldade em viver num sítio que perdesse de vista o mar, onde não tivesse um mergulho à distância de “um par de passos”. Se tivesse uma condição que me permitisse escolher o que fazer dividiria o meu tempo entre a minha Lisboa e uma qualquer ilha dessas. Não uma das que sucumbiram ao turismo desenfreado, aos grandes edifícios de betão e às praias lotadas. Prefiro aquelas onde ainda podemos beber da história que nos trouxe até aqui, onde ainda podemos usufruir da relação com os locais, passear em praias quase desertas e sentir a cultura que permanece em cada pedaço.

É assim que me sinto quando percorro as ilhas de Bubaque, Rubane ou Canhabaque na Guiné onde o eco turismo e a natureza caminham de braços dados. Fazem-me lembrar uma outra em Cabo Verde, bem diferente da massificação da Boavista ou do Sal, de nome Ilha de Maio. Sem aeroporto, tem por consequência acessos mais limitados que só se fazem de barco. Lembro-me de me ter apaixonado por ela ao ponto de ter pensado comprar lá uma pequena casa com amigos, junto ao mar. Por lá encontramos quase tudo, um mar quase só para nós, com alguns pescadores que completam um autêntico quadro de simplicidade e beleza, um povo simpático e hospitaleiro e um clima que nos faz querer ficar ali para sempre. Faz falta no entanto como em tantos outros locais, algumas infra estruturas ecológicas, um turismo de paisagem e natureza que possa oferecer a quem a visita as condições ideais para umas boas férias. Lá chegarão certamente, que não a estraguem com grandes resorts e prédios de vários andares mas que optem pela integração com a natureza, com materiais sustentáveis e com pouco ruído visual.

Para quem não conhece, esta pequena ilha de Cabo Verde é palco de uma biodiversidade única, onde as tradições têm um papel importante e a dotam de um cunho muito próprio que aliado a uma gastronomia de excelência, feita de produtos locais e receitas antigas, acabam por tornar este um destino do futuro que merece ser preservado através de uma economia circular que respeite o meio ambiente e beneficie a comunidade local mas que se possa tornar mais aliciante para turistas que procuram conforto conjugado com espiritualidade e ligação ao que de mais orgânico podemos ambicionar. E dá para ter as duas coisas numa só, se tudo for feito a pensar no bem estar e no cuidado com a beleza natural. A minha amiga Mariana falou-me há uns tempos da ilha e eu voltei a sentir saudades de lá regressar. Que esta e outras ilhas possam caminhar para um desenvolvimento que privilegie a preservação da natureza sem cair no erro de querer tudo de uma vez só mas que se possa dar a conhecer, naquelas dunas extensas que caminham até ao mar e que a tornam num lugar mágico que merece ser sentido, vivido e experienciado por quem lhe dá o devido respeito e valor.