Só há inclusão onde houver coração
Não há pessoas incompletas. O nosso olhar é que pode estar incompleto. O nosso coração é que pode ainda estar enclausurado na tirania das expectativas, da narrativa do que é esperado, e não ter ainda espaço para acolher e amar uma pessoa que consideramos ‘diferente’
Se uma criança neurotípica, dita ‘normal’ muda o centro de gravidade e o ritmo dos dias, tendo a capacidade de colocar de pernas para o ar a vida dos pais, uma criança neurodivergente, dita ‘diferente’ ou ‘especial’, será sempre um sismo, que se dá de uma vez só ou com várias réplicas, de maior ou menor intensidade. E um sismo que puxa, distende, sacode quem cuida dela. É desconhecido. Por isso é que assusta, dói, e deixa um rasto de insegurança. Mas essa dor é dor de crescimento, é a dor de quem está a abrir mão das expetativas acerca de quem a criança deveria ser. É a dor de quem está a alargar o coração. A dor da aceitação, e de quem está a crescer, lado-a-lado com aquela criança. Através da deficiência dos nossos filhos, curamos as nossas próprias deficiências. Nós e todos os que estão comprometidos em acolher, incluir e guiar os que são diferentes.