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Análise

Madeirenses à espera de reparação

Marcelo afastou-nos do debate europeu. mais do que explicações, deve-nos desculpas

Diversos protagonistas da vida pública nacional devem aos madeirenses bem mais do que explicações. Ora porque nos tratam como portugueses de segunda, meros adjacentes da sobranceria e insensata tribo que tudo decide. Ora porque nos tentam passar a perna, com promessas que a distância ajuda a esquecer ou com elogios cuja falsidade só consegue gerar indiferença. Ora porque nos procuram apenas quando lhes dá jeito, nem que seja para ridicularizar. A lista de prevaricadores e caloteiros é extensa e lá cabem os que nos têm tirado oportunidades e sono, os que com regularidade comprometem a dita continuidade territorial e os que são cúmplices das lamentáveis discriminações, os que abusam da nossa paciência e que os que em cada instante fomentam o centralismo colonialista. Como todos sabem que num país de tesos dificilmente haverá margem para compensações económicas, não será demais exortar alguns do que se deixam embalar à boleia do tema da reparação justa e há muito necessária às ex-colónias, para que antes acertem contas com a Região pelos danos causados, decorrentes de posicionamentos recentes, e que, ao menos, peçam desculpas. 1. O Presidente da República. Ao marcar eleições regionais para 26 de Maio, Marcelo Rebelo de Sousa afastou os madeirenses do importante debate europeu, logo agora que, como lembrou Emmanuel Macron, “a Europa pode morrer”, que a coesão interna está em risco e que a competitividade do velho continente já não é o que era. Pior, não acautelou o espaço temporal necessário para que a campanha para o Parlamento Europeu não fosse contaminada pelas questões domésticas, as mesmas que da União só esperam mundos e fundos, mas que pouco dão de volta, seja em votos ou em ideias. Como continuar sem dar explicações para uma decisão arbitrária e precipitada, exige-se a Marcelo que repare o mal que fez. Com juros. Por muito que lhe custe, mesmo que, nesta altura, em que tudo faz e diz sem cuidado, qualquer golpe de asa acrescente pouca dignidade ao cargo.

2. Os serviços de Estado que se julgam importantes, mas que continuam a ignorar que somos portugueses. Iguais a todos os outros. Aliás, do fisco aos reguladores, dos tribunais às polícias, há sem número de tiques colonialistas que nos destratam. Os procedimentos a ter para ir a Lisboa por mais de cinco dias, quando temos Termo de Identidade e Residência, é apenas um exemplo.

3. As entidades centralistas que conhecem a Madeira das excursões e do eventos, das visitas de médico e dos delírios políticos, mas que se aproveitam das especificidades geradoras de custos acrescidos ou de transtornos dispensáveis, seja quando nos substituímos ao Estado no subsídio de mobilidade ou quando nos negam entregas de bens e serviços por causa do domicílio fiscal.

4. Os líderes partidários que ignoram as potencialidades dos nossos mais conceituados na política e que dão migalhas à Madeira. Agradeçam-lhes os lugares não elegíveis nas listas às Europeias e as sobras que disfarçam a forma como nos consideram insignificantes.

5. A máquina judicial que empata o futuro colectivo e coloca em lista de espera um sem número de cidadãos também da Região sem culpa formalizada. Não admira que 50 personalidades de diversos quadrantes tenha assinado um manifesto contra o “poder sem controlo” do MP e em defesa de um “sobressalto cívico” que acabe com a “preocupante inércia” dos agentes políticos relativamente à reforma da Justiça, num apelo ao Presidente, Governo e parlamento.

6. Os comentadores que criticam sem conhecer, que generalizam sem escrúpulos e fazem juízos de valor sem pudor.Mesmo que alguns cheguem aos palcos políticos, não deixam de ser trunfos para ganhar votos, logo, descartáveis quando forem estrelas cadentes.

7. Os plagiadores que se apropriam da criatividade local para ganhar o pão com o suor do rosto dos outros.

A todos, mais do que o perdão que o bom ilhéu concede sempre que se apercebe de que está perante gente com berço, importa dar tempo necessário para a redenção. Talvez lhes falte a mãe flor do nosso mundo - que hoje se celebra -, a que partilha valores sem nada pedir, na esperança que tamanha semente cresça no jardim da humanidade abundantemente empestado de guerras, ódios e desequilíbrio climáticos, políticos e sociais.