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Argentina mantém inflação mais alta do Mundo em Fevereiro e pode piorar em Março

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A inflação de 13,2% em fevereiro na Argentina representou a segunda queda mensal daquele indicador, apesar de ser o mais alto do mundo, uma tendência que março ameaça quebrar, somando à crise inflacionária uma crise de emprego.

"Está tudo caríssimo. Já passei das primeiras às segundas marcas. Já reduzi o meu consumo ao mínimo. O único sentido que vejo em trabalhar é não ficar sem absolutamente nada. Trabalho e trabalho, mas o salário nunca é suficiente", desabafa à Lusa Gabriela Morrone, funcionária numa padaria no bairro de Villa Urquiza, em Buenos Aires.

"Na padaria, as vendas caíram para metade. Estou a ver a hora em que o dono também reduzirá a quantidade de pessoal para metade", prevê.

O cientista político Carlos Fara descreve à Lusa o panorama pelo qual a economia argentina e os próprios argentinos atravessam: "atualmente, os salários correm atrás da inflação. Porém, existe um risco ainda maior: o desemprego. Podemos passar de uma crise de inflação a uma crise de emprego. Então, se agora o dinheiro não é suficiente, pior será se não houver trabalho. Isso pode gerar um mal estar social ainda pior, levando boa parte da sociedade a questionar a política económica do governo".

Na terça-feira, o Instituto Argentino de Estatísticas e Censos divulgou que o índice de inflação de fevereiro foi de 13,2%, acumulando 276,2% nos últimos 12 meses.

O aumento de preços nos dois primeiros meses do ano somou 36,6%. Desde que o Presidente Javier Milei assumiu o cargo em dezembro, são 72%.

A taxa de fevereiro ficou abaixo dos 15%, o que tanto o mercado quanto o governo esperavam, mas a inflação argentina continua a mais alta do mundo.

Depois da Argentina, o Egito teve 11,4% em fevereiro, o Zimbabué chegou aos 5,4% e a Turquia, a 4,5%. Até mesmo a antes recordista de inflação Venezuela registou um deflação de 0,5%. Na América Latina, todos os países tiveram inflação abaixo de 01% no mês passado.

A Argentina tem sido a exceção, mas numa pronunciada queda. Em dezembro, teve 25,5% e em janeiro, 20,6%.

Março, no entanto, ameaça quebrar a tendência confirmada com os 13,2% de fevereiro.

"O grande teste para a política económica do governo Milei é março. Será crucial para sabermos se a tendência será interrompida. Em março, virão mais aumentos nas tarifas de eletricidade, gás e água. Os números de altas na primeira semana, sobretudo dos alimentos, não foram bons. A impressão é que será difícil vermos uma nova queda sensível", observa o economista Ricardo Delgado.

Para não quebrar a tendência de queda, o governo anunciou que vai abrir a importação de alimentos da cesta básica, reduzindo impostos, uma novidade num país com a economia fechada aos produtos importados.

Entre as armas de combate à inflação do Presidente Javier Milei está a diluição de salários e reformas. O governo tem evitado a recomposição salarial, permitindo apenas reajustes bem abaixo da inflação, mesmo que isso leve a economia à recessão.

Mas apesar dessa estratégia, boa parte dos trabalhadores, por mais que estejam empregados, tem caído na pobreza. A queda drástica no consumo, mais cedo que tarde, deverá levar as empresas a cortarem postos de trabalho em linha com a queda nas vendas.

"Quase um terço dos trabalhadores argentinos está abaixo do limiar de pobreza. O governo deve cuidar para que a recessão não se aprofunde e, assim, proteger o emprego. Caso contrário, a recessão pode até reduzir a inflação, mas não se combate a doença com a morte do paciente", adverte Ricardo Delgado.