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Ventos no Aeroporto da Madeira

Foi no passado dia 24.05., que no programa “Interesse Público” da RTP Madeira, mais uma vez foi analisado o recorrente, e, entretanto, ampliado, problema dos ventos cruzados e traiçoeiros, no aeroporto da Região Autónoma da Madeira (RAM). Trata-se de um assunto que causa imenso incómodo aos passageiros, entre eles os turistas que nos visitam, e em que, também nós, residentes, já fomos “vítimas” alguma ou várias vezes. Tem paralela e igualmente impacto na imagem externa da RAM, e, consequentemente, potenciais efeitos económicos negativos. O problema dos ventos no aeroporto da RAM, sempre existiu, mas agravou-se com o último prolongamento da pista para os 2.781 metros, e, também, por efeito das alterações climáticas. Com todo o respeito por quem zela por “receber e entregar” passageiros através de voos comerciais, fico sempre perplexo, quando oiço, como ouvi, opiniões de quem tem experiência em aviação, posicionando-se contra a imposição de limites de vento para permissão de operações, com intervenções qualquer coisa como, “eu fiz inúmeras aterragens no aeroporto da Madeira; os aviões de hoje têm tecnologia que permite aterrar além do limite mandatório de vento; noutros aeroportos, igualmente de aterragem adversa, é deixado ao comandante a decisão de aterrar ou não”, transparecendo uma análise pouco ponderada e algo imprudente. A minha perplexidade diminuiu, quando outra personalidade, também participante no debate, e também com centenas de aterragens feitas no aeroporto da Madeira, historiou, enquadrou e explicou, aliás muito bem, o que se passa com os ventos no aeroporto, socorrendo-se até de um estudo efetuado pelo IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera). Referiu que a somar aos problemas já anteriormente existentes com os ventos, adicionou-se a imprevisibilidade de novos fenómenos, igualmente com origem no vento, que os pilares que sustentam o último prolongamento da pista vieram trazer, acrescentando assim, incerteza e potencial perigo ao já existente, todos eles decorrentes da localização da estrutura aeroportuária. Defendeu também, que era contra a alteração dos limites definidos, até que apurados estudos científicos comprovassem que não é precipitado proceder-se à alteração. Parece evidente, que quando se trata de segurança, ela é (deve ser), sempre e em qualquer atividade, calculada por excesso e não por defeito. No caso da aviação, é ainda mais compreensível. Colocar aparelhos a voar, não é algo natural. É mais uma das investidas do génio humano, na sua vontade de querer forçar os limites do conhecimento. E o caminho que a indústria de fabrico de aeronaves tem seguido e muito bem, é exatamente reduzir ao mínimo a intervenção do homem. E percebe-se facilmente o porquê, da razão, entre outras, da crescente introdução de inovação tecnológica nas aeronaves. Claro que ninguém quer, ainda, a impossibilidade de intervenção do comandante, mas está mais que provado estatisticamente, que a esmagadora maioria dos acidentes de aviação, resulta de erro humano. E não será futurologia, afirmar que num tempo próximo, a aviação comercial será operada em terra, como aliás já acontece com os drones de grandes dimensões, de utilização militar. Depois, é mais que evidente, que a ANAC (Autoridade Nacional de Aeroportos e Navegação) não vai proceder a qualquer alteração aos limites mandatórios de vento no aeroporto da RAM, só porque há vozes que o reclamam. Seria, aliás, estar a brincar com a vida das pessoas e até com a RAM. O que há a fazer, quando ocorrem cancelamentos de voos e até que os limites de vento sejam fundadamente alterados, é continuar a melhorar o Plano de Contingência, e há sinais de melhorias, para que o desconforto sentido pelos passageiros que ficam retidos no aeroporto seja atenuado. Se boas condições forem oferecidas, mitigando o incómodo, a imagem que ficará e perdurará, é a de que contra condições naturais de tempo adversas, ninguém pode fazer nada, mas a RAM no seu jeito de bem receber, esteve à altura dos acontecimentos.