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As dúvidas de Marcelo

É permanente a desestabilização da situação política. O que não deixa de ser um pouco insólito já que é da responsabilidade exclusiva do governo. O cerne da ebulição cadenciada está no seu seio, tem origem em vários dos seus membros e departamentos.

Perguntarão os portugueses, justamente, das razões que levarão o Presidente da República, face ao acumular de situações polémicas, a não dissolver o parlamento fazendo cair o executivo.

Essas eventuais dúvidas merecem reflexão. Desde logo a forte probabilidade de António Costa voltar a candidatar-se e ser reeleito. Já não com maioria absoluta mas com possibilidade de governar em minoria ou em coligação.

Porém, podem os sociais democratas vencer sem que, no entanto, obtenham os votos que lhes garantam assumir o poder em estabilidade. Ficarão obrigados a contar com parceiros, seja no parlamento ou mesmo no governo. Neste caso, poderá alcançar papel mais importante do que o PR deseja o partido de André Ventura. Ora, o presidente não terá vontade de provocar essa ascensão populista.

Resumindo, Marcelo, à esquerda, não quererá fazer renascer a geringonça, ou repetir uma solução PS em minoria, com piores condições para o exercício das funções. E, à direita, deduz que o PSD ainda não promete certeza vencedora e não tenciona oferecer protagonismo ao Chega.

Restar-lhe-á esperar que cresça essa alternativa política e, entretanto, como não demite o governo pode pedir a Costa que o remodele.

Não foi isso que aconteceu. O jogo vai ter 2ª parte. Costa surpreendeu, arriscou e transmitiu a ideia de querer disputar eleições antes que se faça tarde. Talvez seja só “mise en scène”. A bola está do lado de Belém. Que, provavelmente, vai chutá-la para mais longe.