Fact Check Madeira

Apenas o acesso à torre da Sé poderá vir a ser pago

A torre da Sé, único espaço do templo cujo acesso pode vir a ser taxado, aguarda por “obras de qualificação” antes de poder abrir ao público

A Sé Catedral do Funchal é um templo dos séculos XV e XVI, de estilo gótico mendicante, com diversos elementos manuelinos. 
A Sé Catedral do Funchal é um templo dos séculos XV e XVI, de estilo gótico mendicante, com diversos elementos manuelinos. , Foto Arquivo

Nos últimos dias, a possibilidade de a entrada na Sé do Funchal poder vir a ser paga deixou a comunidade religiosa madeirense em alvoroço, mesmo depois de alguns elementos do clero regional se terem apressado a esclarecer a situação.

Tudo começou com uma entrevista do bispo do Funchal à Antena 1 Madeira, no dia 7 de Abril.

Na ocasião, D. Nuno Brás apontava a vontade de abrir a torre da Sé ao público, e se assim fosse assumia como "natural" que esse acesso fosse pago. "Tomara que nos deixassem fazer com que as pessoas subissem à torre da Sé. Mas acho que é natural que seja pago. A igreja tem de viver de alguma coisa, e, sim, é uma coisa paga em todas as catedrais do Mundo. Portanto, quando existir vai ser pago, claro que sim". A par disso, o bispo referia: "Devo dizer, até, que tenho tido algumas pressões para colocar a pagamento a visita à própria Sé. E obviamente, eu tenho resistido", concluindo que da sua parte tal não era uma hipótese em estudo. 

Na sequência dessa conversa que o prelado manteve com a jornalista Celina Faria, a RTP Madeira fez uma reportagem, uma semana depois, no Telejornal, abordando o tópico de “Entradas pagas na Sé”, na qual o jornalista Angelino Câmara procurou ouvir a opinião de madeirenses e turistas sobre essa possibilidade.

Desde logo, nas redes sociais, parecia ter caído ‘o Carmo e a Trindade’. Não se fez tardar o esgrimir de argumentos, tendo de um lado os que eram a favor de uma possível taxa, e do outro aqueles que discordavam liminarmente com essa cobrança.

Os responsáveis pelo tempo, no dia seguinte, procuraram esclarecer o que diziam ser um “mal-entendido”. Na página de Facebook ‘Sé do Funchal’, foi publicado um “esclarecimento”, onde era colocada de parte essa intenção, publicação que entretanto foi removida. 

Andam notícias a circular sobre o pagamento para entrar na igreja da Sé e com alguma maldade por parte de quem produz a notícia com muita ambiguidade só para criar bombásticas notícias.Queremos dizer o seguinte sobre o assunto:
NUNCA a igreja da Sé terá entradas pagas para quem entra para rezar ou celebrar missa.
Em muitas igrejas e catedrais pelo mundo fora a entrada é paga apenas para a visita turística. De momento essa questão não é colocada para a nossa catedral.
Desejamos a todos um Feliz Domingo!
Publicação na página de Facebook 'Sé do Funchal'

Mas nem assim o assunto parece ter ficado esclarecido, já que nas redes sociais a polémica continuou sendo alimentada. Tanto que ainda ontem, na mesma página, foi publicado um novo 'ponto de ordem', depois de, nos últimos dias, terem sido várias as publicações a apelar à visita gratuita da Sé. 

Para perceber melhor toda a situação, o DIÁRIO falou com o cónego Marcos Gonçalves, que, além de ser o responsável pelo Gabinete de Comunicação da Diocese do Funchal, é, também, o pároco da Sé desde Setembro de 2020. O sacerdote prontamente esclareceu  que "nunca a Sé cobrará qualquer valor a quem entra na igreja para rezar ou para ir à missa", salientando que algumas pessoas teimam em "confundir as coisas". 

Esclarecida a questão de fundo, o pároco tratou de referir que o pagamento que está em equação é pelo acesso à torre, espaço que, além de permitir contacto com algumas áreas interiores do templo, possibilita uma vista única sobre a cidade do Funchal, tendo aqui o motivo principal para a sua abertura ao público, um pouco como já acontece na Igreja do Colégio. O tornar essa área visitável depende de algumas "obras de qualificação" prévias, estando, neste momento, o seu acesso vedado, por não apresentar condições. 

Conheça o novo pároco da Sé do Funchal

Na rubrica ‘Placa Central’ desta quinta-feira, conheça um pouco mais sobre o mais recente pároco da Sé, que contou como tem sido esta nova fase.

Marcos Gonçalves adiantou que, desde que tem à sua responsabilidade a Catedral, encetou esforços, junto da Direcção Regional de Cultura (DRC), para que fosse estudada a melhor forma de serem levadas a cabo obras de melhoramento na torre, colocando em prática o projecto de abertura aos interessados, aqui sim, mediante o pagamento de uma taxa de entrada. 

Mas, "há três anos que temos andado em diálogo" sem que tenha havido andamento no projecto. O cónego lembra que a Sé Catedral do Funchal está classificada como 'Monumento Nacional' e que, por isso, tem de se submeter a regras muito apertadas quando em causa está qualquer intervenção em toda a sua estrutura. Embora em causa, disse, estejam apenas trabalhos de "qualificação, pintura ou electrificação", suportados com fundos da própria Igreja, o processo obedece a regras. 

Segundo aquele sacerdote, os trabalhos só deverão avançar depois de concluídas as intervenções que a DRC tem presentemente em mãos, nomeadamente a requalificação do Convento de Santa Clara (praticamente terminada) e do Museu do Romantismo, na Quinta do Imperador, no Monte. 

Sobre outro assunto aflorado por D. Nuno Brás na referida entrevista, a cobrança de alguma taxa para poder apreciar os tectos da Sé com iluminação, Marcos Gonçalves refere que tal cenário está em estudo, referindo que a ideia passa por implementar um sistema semelhante ao que existe noutros templos espalhados pelo mundo, como é o caso de algumas igrejas italianas. O processo passa pela instalação de um equipamento que activa as luzes após introdução de uma moeda. 

Se a electricidade é paga, é natural que quem quer usar a electricidade para ver melhor os tectos da Igreja do Funchal, que o pague. É uma coisa que se faz em qualquer parte do mundo.  D. Nuno Brás, bispo do Funchal 

O pároco da Sé esclareceu que tal ainda está em estudo e que tem muitas condicionantes à sua implementação, desde logo o desgaste que as lâmpadas sofreriam, bem como o custo de manutenção e a dificuldade para a sua substituição em caso de fundição. "São lâmpadas que ficam muito altas e só para montar um andaime para as substituir estamos a falar de mais de 700 euros", apontou como um aspecto contra. A ser para avançar, tal carece de uma autorização prévia das instâncias com a tutela do património classificado. Por tudo isto, "não é viável para já o tecto". Quem pretender apreciar a sua beleza iluminada poderá visitar a Sé, todos os dias, entre as 11h45 e as 12 horas, ou ao domingo, entre as 11 horas e o meio dia. 

Garantido, por agora, é que o altar-mor vai passar a dispor de um equipamento deste género, que, mediante activação por meio de uma moeda (valor a definir), aquela zona da Catedral ficará mais iluminada. A DRC já autorizou a instalação e o equipamento já estará na Madeira, faltando apenas a sua montagem. Marcos Gonçalves conclui apontando que "é preciso cuidar da Sé de acordo com as nossas possibilidades". 

“NUNCA a igreja da Sé cobrará qualquer bilhete ou valor para que os fiéis possam entrar na igreja e rezar”, podemos ler numa das mais recentes publicações na página de Facebook ‘Sé do Funchal’. O DIÁRIO procurou esclarecer a polémica e o cónego Marcos Gonçalves garante que essa hipótese nunca foi considerada, não passando de um mal-entendido.