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Por onde começar?

É preciso começar a fazer uma reflexão profunda sobre a “saúde” da democracia portuguesa e dos seus políticos

1. Membros do Governo socialista caem, e bem, como as folhas caducas com o vento de Outono por “faltas” cometidas. Depois, à boa maneira portuguesa, vamos escrutinar a família toda até ao 5.º grau. Todos os políticos são bandidos, se ele não for, há-de ter um primo ou um tetra-avô que, com certeza, cometeu um crime. É preciso começar a fazer uma reflexão profunda sobre a “saúde” da democracia portuguesa e dos seus políticos, a qualidade de alguma comunicação social nacional e que opinião pública estamos a formar.

2. O cidadão comum se sai por sua vontade de um emprego não tem direito a qualquer compensação e se for despedido há regras claras sobre os seus direitos. A administradora da Tap recebe meio milhão, e outra, no passado, recebeu 1.2 milhões. Pagamos valores astronómicos a administradores, com a ideia que temos de captar os melhores quadros da sociedade para gerirem o país. Infelizmente, e pelo que temos visto, os governos têm escolhido os melhores a depenar o país. Ordenados e compensações chorudas, empresas na falência e mal administradas. Até quando?

3. Mas vamos à maior polémica. O Palco do Papa. Mas gostava que se tirasse o peso religioso e que olhássemos para o acontecimento como um evento de cariz mundial. Como nota prévia e fazendo “contas de merceeiro” e contando que só vamos ter 500 mil participantes (em vez de um milhão previstos) o município de Lisboa vai encaixar com a taxa turística no mínimo 6 milhões de euros, tendo em conta que a taxa turística são 2 euros por noite e por hóspede. Em IVA decorrente da hospedagem, fazendo a média de 500 euros por pessoa, para um total de 6 noites (será muito mais, toda a gente já percebeu que os valores que vão ser praticados são muito acima) dá qualquer coisa como 15 milhões. Toda a gente tem de comer e partindo do pressuposto que gastarão em média 50 euros por dia x 6 dias, só em IVA da restauração serão quase 20 milhões de euros. Isto são impostos pagos pelos visitantes, não é dinheiro dos portugueses. O Governo e a Câmara só encaixam este dinheiro porque irá existir o evento. Agora vamos perceber o que a Câmara quis fazer… Quis aproveitar este evento para fazer uma obra que perdure e reabilitar uma zona que estava “perdida”. Ora, o que gostava de ver os portugueses discutirem era se o projecto apresentado realmente teria outros fins e poderia ser aproveitado para outro tipo de eventos no futuro. O que gostaria de perceber e ver discutido é se o custo daquele projecto depois de, efectivamente, comprovar as utilidades futuras ou feitas as devidas alterações para que tal fosse uma realidade, não estaria a ser sobrevalorizado havendo aproveitamento financeiro. Eu confesso o meu pecado de, perante o claro investimento com o dinheiro dos participantes, não me chocar investir alguns milhões por uma obra que servisse mais propósitos futuros, tivesse uma marca arquitétonica que marcasse esta era, que reabilitasse e potenciasse uma nova zona na cidade e que tornasse o evento memorável, tendo um efeito multiplicador em termos turísticos com consequências económicas positivas para todo o país. Desculpem, mas prefiro gastar um pouco mais, por uma obra que fique, que um milhão e meio por um palco de contentores para desmontar de seguida. Obviamente, que perante toda a polémica tudo será refeito e reprogramado, só espero que não se perca uma oportunidade para fazer melhor e que o nivelamento não seja feito por baixo e francamente sem qualidade ou aproveitamento. Podem dizer que em Espanha as entidades públicas em nada contribuíram nas últimas jornadas da juventude, mas a verdade é que apenas ficou a memória. Alguma coisa foi construída que perdurasse ou ficasse como mais valia? A resposta é Não. Opções.