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Casos judiciais

Após análise mais cuidada, o juiz concluiu que o quinto rapaz, na verdade, participou no furto, mas, nessa data, era ainda menor de 15 anos

Estas situações foram por mim presenciadas no Funchal, há vários anos, quando aqui exerci funções.

Arguido a mais

No início de uma audiência de julgamento em tribunal coletivo, o juiz Ferreira Neto ficou estupefacto, quando entrou na sala de audiência e viu cinco rapazes sentados no banco dos réus. Na capa do processo estava apenas o nome de quatro arguidos, os que constavam da acusação.

- Vocês são todos arguidos neste processo? Perguntou o juiz presidente, antes de se sentar.

Todos os cinco rapazes inclinaram a cabeça em sinal afirmativo e responderam: - Sim senhor.

O Juiz sentou-se, começou por identificar os arguidos um a um, mas restava ainda um rapaz. O juiz passa os olhos pela acusação e diz em voz alta:

- Este processo diz respeito a um furto ocorrido no dia 15 de maio …, na Rua ... O juiz fez uma pausa, olha para o quinto rapaz sentado no banco dos réus e perguntou:

- Não me diga que participou também neste furto juntamente com os outros?!

Para estupefação de todos os presentes na sala, o quinto rapaz inclinou a cabeça em sinal afirmativo e respondeu:

- Participei sim senhor.

Seguiu-se uma risada por todos os presentes na sala.

Após análise mais cuidada, o juiz concluiu que o quinto rapaz, na verdade, participou no furto, mas, nessa data, era ainda menor de 15 anos. Por esse motivo não pôde ser acusado em processo-crime. A este tinha sido instaurado um processo no Tribunal de Menores.

O rapaz tinha sido notificado para a audiência do processo-crime, para ser ouvido como testemunha. No entanto, como tinha participado no furto, sentou-se ao lado dos outros arguidos.

Destino da criança

Os pais de uma criança ausentaram-se da Madeira, deixaram o filho ao cuidado de uma vizinha, mas não mantinham contacto com o filho.

A vizinha guardiã necessitava de uma decisão do tribunal de Menores, confiando-lhe o menor, para que pudesse tratar da matrícula na escola e dos demais assuntos da criança.

Mas a Senhora quer mesmo continuar a tratar da criança? - Perguntou o juiz.

Respondeu a senhora com muita convicção:

- Tenho tratado dele desde bebé como meu filho, e quero continuar a tratar enquanto eu for viva. E se alguém me tirar a criança eu pego num pau e parto-lhe a cabeça!

O Juiz olhou para o Procurador da República, que estava a seu lado, e comentou em voz baixa:

- Espero que não tenha que tirar a criança a esta senhora!

*) Procurador-Geral Adjunto na Procuradoria-Geral Regional de Lisboa