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Herdeiros pela justiça

As políticas neoliberais têm servido para aumentar as desigualdades sociais

Somos confrontados, todos os dias, sobretudo com notícias dramáticas e negativas, da preferência dos Media, o que nos faz pensar que o planeta está todo num caos e desencadeia em nós um sentimento de descrença na humanidade. Mas eis que surgem notícias que nos fazem sorrir e acreditar que há esperança e há pessoas extraordinárias, com um quadro de valores, que espelha o melhor do ser humano.

O Observador, na edição do dia 22 de dezembro, traz uma notícia da herdeira de uma das maiores fortunas proveniente dos negócios da família ligados à indústria farmacêutica e de equipamento médico. Esta cidadã austríaca e alemã, Marlene Engelhorn, apesar de sempre ter vivido no meio do conforto e fausto, não ficou indiferente àqueles que não gozam do mesmo privilégio.

Assumindo-se como anticapitalista, quer prescindir de 90% da fortuna herdada no valor de 4.2 mil milhões de dólares e a doar para que o Estado decida o que fazer ao dinheiro. Esta jovem austríaca defende a redistribuição da riqueza, tendo ajudado a fundar a organização “Tax Me Now”, constituída por herdeiros como ela. Há, felizmente, muitos outros exemplos de cidadãos com uma sensibilidade e solidariedade ímpares, como nos vão chegando as notícias que quebram o padrão negativo.

Pessoas como ela procuram contrariar os efeitos nefastos do capitalismo, tendo-se o neoliberalismo tornado uma nova ordem mundial, enquanto doutrina económica capitalista, a partir dos anos 80. As políticas neoliberais, não obstante terem democratizado o acesso a bens de consumo, têm servido para aumentar as desigualdades sociais e criado desequilíbrios entre povos, com consequências nefastas nas próprias Democracias. Estas deveriam garantir a satisfação das necessidades dos cidadãos e dos seus direitos consagrados nas cartas constitucionais.

No entanto, aquilo que se verifica é que os países democráticos, mesmo aqueles que estão organizados para garantir o bem estar social, não têm conseguido contrariar alguns dos efeitos das políticas neoliberais. Uma das consequências é a crise da habitação, que perpassa por praticamente todos os países considerados desenvolvidos e deixou de ser uma questão exclusiva das classes sociais carenciadas. Quando a classe trabalhadora não consegue garantir o seu bem estar e segurança, fica aberta uma brecha no tecido social que dá azo à contestação e ao mal-estar. O descontentamento transforma-se em desilusão em relação às instituições públicas, o que pode levar, paulatinamente, à corrosão das democracias com o crescimento de movimentos populistas e reacionários.

Mas estamos em época natalícia, de renascimento da Esperança e da Fé, por isso, acreditemos no Ser Humano e na sua capacidade de ver o melhor de si e dos outros. Que sejamos nós herdeiros ativos da ética democrática e percursores de uma ordem mundial mais justa e equilibrada.

Feliz Natal.