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Crónicas

Os valores e os ambientalistas

Admito que o mundo tenha andado depressa demais (para a frente ou para trás)

Há uns tempos, à saída do trabalho, dirigi-me, como sempre faço, para os elevadores que me levam em direção ao parque de estacionamento onde deixo o carro. Chamei o elevador e quando o mesmo estava prestes a chegar, aproximaram-se duas colegas de outro departamento. O meu instinto natural levou-me para o que fui ensinado a fazer, a porta abriu-se e mesmo tendo eu chegado primeiro, fiz sinal para elas passarem. Elas ficaram estupefactas a olhar para mim e foram o trajeto todo a rirem-se uma para a outra e a falarem baixinho como se eu tivesse tido a atitude mais estúpida do mundo. Eu tenho muitos defeitos e não tenho intenção de me fazer passar por santo, coisa que estou longe de ser, mas se há algo que tenho é o sentido de respeito e de cavalheirismo e ao mesmo tempo de urbanidade. Paro sempre nas passadeiras e recuso-me a estacionar nelas mesmo atrasado, porque já assisti à dificuldade dos invisuais, quando se deparam com obstáculos. Agradeço sempre que me deixam entrar numa fila de trânsito mas é cada vez mais inusual fazerem o mesmo comigo. As pessoas estão-se a borrifar umas para as outras, a realidade é essa.

Voltando ao elevador, admito que o mundo tenha andado depressa demais (para a frente ou para trás) e que eu me tenha tornado retrógrado. As pessoas hoje em dia esperam muito pouco umas das outras e com estas coisas da igualdade e do assédio acho que se foi perdendo esse charme e essa educação de privilegiar as mulheres em determinadas situações. Num tempo em que mesmo o termo homem e mulher é alvo de críticas essas atitudes passam naturalmente para segundo plano. Fui também ensinado a respeitar os mais velhos e as instituições mas parece que também isso se vai perdendo. Independentemente da cor política e dos inúmeros erros que os políticos têm cometido ao longo dos anos, quando vejo uns miúdos a agredirem um Ministro com balões de tinta e frases insultuosas e o próprio a menorizar e desvalorizar o caso por achar que o tema é pertinente, eu pergunto-me como vai ser a partir daqui e o que esperamos que os jovens façam, instigados pela sua natural rebeldia.

Eu cometi algumas asneiras quando vivia com os meus pais e fui castigado por isso. Aprendi também aí que as minhas ações tinham consequências e que há determinadas linhas que não se passam. Hoje em dia parece que há erros bons e erros maus e há atitudes que são desculpáveis por virem travestidas de boas intenções. Andamos todos com medo de tocar na ferida, de impor alguma ordem e respeito e caminhamos alegremente numa estrada do politicamente correto. Parece que esta organização “Climáximo”, que pelas imagens da televisão tem manifestantes com garrafas de água de plástico na mão e uma resma de papéis na outra, para além de defender (e bem) políticas ambientalistas mais responsáveis, assume-se como um coletivo anti-capitalista, que defende que a habitação deve ser nacionalizada, ou seja presumo que ninguém tenha direito à propriedade e é o Estado que distribui as casas pelas pessoas e que devemos acabar com a polícia e o exército, para além de outras alarvidades.

Pois eu mesmo sendo, aos olhos de alguns, retrógrado, não estou interessado em deixar de ser como sou, vou continuar a ter os meus valores e a defender as minhas convicções. Assim sendo, acho que a parte da sociedade que não se identifica com este tipo de posturas deve começar a tomar algumas atitudes e a expressar-se em relação a certos temas em vez de assobiar para o lado. Pensem o que quiserem mas não me imponham a mim formas de estar e de pensar em que eu não acredito. Muitos destes meninos rebeldes, manifestam-se com telemóvel no bolso e não se coíbem de andar de avião e e de usufruir de outros supostos luxos que tanto combatem. Pois que apresentem as suas soluções mas de uma forma ordeira e respeitadora, senão alguém tem que lhes mostrar que ainda não vivemos numa anarquia. Na minha época isto resolvia-se com um par de estalos e um puxão de orelhas mas como sou contra a violência, que lhes apliquem pelo menos as leis a que todos estamos sujeitos. É o mínimo. Senão isto vai descambar...