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Mais de 150 idosos morreram de forma violenta na Venezuela em seis meses

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Pelo menos 157 idosos morreram de forma violenta na Venezuela durante os primeiros seis meses do ano, segundo dados divulgados na quarta-feira pela organização não-governamental (ONG) Associação Civil Convite.

Os dados fazem parte do relatório "Vitimização das Pessoas Idosas na Venezuela: A Velhice em Risco", correspondente ao período entre janeiro e junho de 2023, e representam "um aumento de 7%" em comparação com igual período do ano anterior, de acordo com a ONG venezuelana, que reivindica o respeito pelos direitos sociais da população.

"Entende-se por morte violenta de pessoas idosas a morte provocada de mulheres com mais de 55 anos e de homens com 60 anos ou mais (...). Nem sempre resulta de atos criminosos e pode ser consequência de ações intencionais ou não intencionais", lê-se no relatório.

Segundo a Convite, "a grande maioria destas mortes ocorre porque o Estado não garante o direito à vida, à propriedade, à segurança dos cidadãos e a uma qualidade de vida digna que permita o acesso a alimentos, medicamentos, a serviços e à assistência médica, recursos indispensáveis à sobrevivência, sobretudo dos idosos".

"São mortes violentas que poderiam ter sido evitadas e que evidenciam a negligência e o incumprimento das suas obrigações de proteção de parte do Estado face às ameaças de particulares e de entidades públicas ou privadas", explica.

Durante a apresentação do relatório, Francelia Ruíz, diretora da Convite, explicou que as principais vítimas foram homens entre os 60 e 70 anos de idade, em maior número em Arágua, Carabobo, Mérida e Zúlia.

O relatório dá conta que 33% das mortes ocorreram por "causas específicas", como "falta de atenção, arma de fogo, asfixia mecânica, arma branca, espancamentos, suicídios, atropelamentos", entre outras, nalguns casos no âmbito de roubos.

A Convite registou também 23 mortes violentas por descuido, negligência e inexperiência, que tiveram como causa mais frequente acidentes de trabalho, domésticos e de viação.

Os atropelamentos foram responsáveis por "15% dos casos e 4% de mortes violentas são atribuídas à responsabilidade direta do Estado, nomeadamente, a falta de atenção, atempada e de qualidade, às vítimas".

Ainda de acordo com a Convite, 77% das vítimas de mortes violentas eram do sexo masculino e 23% mulheres.

Em 73% dos casos, os vizinhos, amigos ou conhecidos das vítimas foram identificados como responsáveis, em 16% foram os filhos e em 11% os cônjuges ou companheiros.

Francelia Ruíz notou que a migração de membros de família e "a falta de um rendimento mínimo para satisfazer necessidades básicas, como a alimentação ou a medicação, obrigam os idosos a escolher entre 'morrer e morrer'", sublinhando que "geralmente os que tentaram o suicídio tinham uma doença crónica que requeria medicação para toda a vida".

Por outro lado, o diretor-geral da Convite, Luís Francisco Cabezas, disse estar preocupado "com os suicídios silenciosos, que não são classificados como suicídios quando são notificados".

"Ou seja, de pessoas idosas (...) que se deixam morrer, deixam de fazer tratamentos, deixam de comer porque sabem que, mais cedo ou mais tarde, vão ter um desfecho fatal", disse.

Segundo Cabezas, "muitos idosos vivem na solidão e isso é um fator que afeta a sua saúde mental e, por vezes, leva-os a tomar a decisão de um suicídio silencioso que ainda não está marcado na legislação venezuelana".

Por outro lado, explicou que em 2022, 12% da população idosa venezuelana vivia sozinha.