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Investir nas Pessoas

Os regimes que cultivam o culto da personalidade dos seus líderes normalmente assinalam o seu período de governação com grandes obras, chegando a ser megalómanas e até desajustadas dos contextos sociais e económicos em que se instalam. E não precisamos sair da ilha para termos exemplo disto.

Com o fim do Estado Novo e a entrada num regime democrático, houve uma grande necessidade de investimento público em diversas áreas e em todo o território português, procurando compensar a falta de infraestruturas na Educação, saúde e rede viária, na perspetiva do cidadão, do utilizador, com o fito de recuperar o grande atraso económico e social do país.

É indesmentível que muita da construção realizada contribuiu para o desenvolvimento da Região, mas o ritmo de desenvolvimento não teve a correspondência desejada ao progresso social.

As obras públicas devem ter subjacentes princípios que vão para além do investimento e do propósito imediato, sob o risco de se tornarem elefantes brancos ou sorvedouros de recursos que vão comprometer o futuro das gerações seguintes. E exemplos desses não faltam na Madeira.

A implantação de infraestruturas deve ter por base os princípios da utilidade, da adequabilidade ambiental, urbanística e social e da sustentabilidade. Temos bons exemplos de outrora e da atualidade que ilustram a aplicação destes princípios: as levadas da Madeira, o Hospital, o aeroporto, a rede de estradas e, mais recentemente, as vias rápidas.

Mas também abundam os maus exemplos de obras realizadas que serviram apenas para usar dinheiro inutilmente e afirmar o regime: a marina do lugar e baixo, escolas desnecessárias, edifícios sobredimensionados, edifícios construídos pelas sociedades de desenvolvimento, a fábrica das Moscas (comumente chamada), vários investimentos no Porto Santo, entre outros. Enquanto isso, obras essenciais ficaram por fazer: rede de saneamento e rede de águas na Madeira, manutenção das estradas regionais, manutenção de veredas e de caminhos reais, estabilização de escarpas (veja-se na Calheta e nos Anjos) abandono da floresta, modernização das unidades hospitalares públicas, estruturas residenciais para idosos, só para dar exemplos.

Os investimentos públicos não devem depender da simpatia política do governo, nem a falta de investimento deve servir como arma política de arremesso. A Madeira não terá verdadeiro progresso se um governo não for capaz de pensar para além das necessidades imediatas e para além dos objetivos eleitoralistas.

Mas o melhor investimento é nas pessoas, pois constituem a força motriz da sociedade. Se a pobreza é um problema estrutural que nos aflige particularmente, creio que a maior obra, o principal investimento da Região teria de ser na sua população, nos cidadãos, criando as condições para uma vida confortável e digna.