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Países do Norte "não têm consciência da frustração" e zanga no Sul

Foto ELTON MONTEIRO/LUSA
Foto ELTON MONTEIRO/LUSA

Países do Norte "não têm consciência da frustração" e zanga no Sul

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou hoje em Cabo Verde que os países do Norte "não têm consciência da frustração" e zanga existente no Sul, pela "falta de Justiça" nas relações.

"Muitos países do Norte não têm consciência da frustração, mesmo da zanga que neste momento existe no Sul, pela falta de solidariedade e pela falta de Justiça nas relações económicas globais", afirmou Guterres no Mindelo, no evento "Prime Minister Speaker Series", com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.

"Até há esta ideia nós até somos muito bons, que somos os países doadores. Como somos os países doadores, até estamos a contribuir para ajudar os países do Sul, esquecendo que as regras de funcionamento do nosso sistema económico e financeiro e a forma como funcionam as instituições criadas a seguir à II Guerra Mundial são geradoras de profundas injustiças para com os países do Sul, sem falar da herança colonial, sem falar de todo um conjunto de outros aspetos", disse Guterres, durante o evento, uma "conversa" em público com o primeiro-ministro.

António Guterres iniciou hoje uma visita de três dias a Cabo Verde, no âmbito da Ocean Race, a maior regata do mundo que de 20 a 25 de janeiro faz escala na ilha cabo-verdiana de São Vicente, participando na segunda-feira, também no Mindelo, na Ocean Summit.

Para o secretário-geral das Nações Unidas, que falava sobre a inação dos países mais ricos perante a necessidade de medidas para conter as alterações climáticas, "há uma falta de consciência nos países do Norte a que está associado o egoísmo", enquanto "defeito humano bem conhecido".

"E depois há uma outra coisa terrível nos sistemas políticos e em parte dos sistemas empresariais, que é a preferência pelo imediato. As questões climáticas, as questões dos oceanos, as questões da biodiversidade são questões permanentes, são questões de longo prazo", apontou.

"Eu dizia, quando era primeiro-ministro [de Portugal], que se há um problema, temos que resolver até ao telejornal das oito. Agora não é telejornal das oito, agora é um 'tweet' que vai surgir daqui a cinco minutos. E os sistemas políticos perderam a noção do horizonte de longo prazo em muitas situações", recordou.

O secretário-geral das Nações Unidas reconheceu que "grande parte da ação política, do debate político, de Governos, de oposições, dos média é associado às pequenas questões do dia-a-dia e não permite dar a devida prioridade às questões de longo prazo".