O 23

Gosto de acompanhar de vez em quando os trabalhos do Parlamento da Madeira e fico sempre surpreendido com a crispação entre a maioria e as oposições. Um dos deputados que se destaca pela violência verbal e o tom altissonante é senhor Carlos Rodrigues do PSD. Para ele nada do que vem das oposições é bom ou razoável; a culpa dos problemas da Madeira é sempre de Lisboa; no resto o PSD fez da Madeira um paraíso. Tudo isto, apesar de termos os salários abaixo da média do país, de as famílias da Região terem o mais baixo de poder de compra de Portugal, de termos os impostos muitos mais altos que os Açores que se confrontam, tal como nós, com a insularidade e de termos taxas de pobreza muito acentuadas. Toda esta realidade é desconhecida pelo senhor deputado que é useiro e vezeiro em apontar o dedo aos outros, esquecendo os outros quatro que estão virados para si. Soube um dia destes, neste espaço, numa carta do leitor Manuel Pinto, que este senhor, afinal nem foi eleito diretamente deputado pelo povo. Era o número 23 da lista e o PSD só elegeu 19. E é a este senhor, a quem falta legitimidade eleitoral, que só lá está porque houve eleitos que foram para o Governo, que deram a incumbência de atacar todos os dias a oposição e mesmo o CDS, partido que sustenta a coligação e até manda calar alguns colegas da sua bancada. Se não fora o CDS, o PSD não era Governo e o senhor Caros Rodrigues não era deputado. A coisa é de tal forma que o senhor se espraia na cadeira da Assembleia como se estivesse na praia do Porto Santo ou no sofá de casa, debitando ataques e bitaites aos adversários. Um dia destes até se insurgiu porque queria duas portas para entrar no Parlamento e uma delas estava condicionada. Noutro dia, anunciou que deveríamos desalojar a Capitania, a GNR, o Palácio de São Lourenço da Avenida do Mar. Quantos votos valerá esta personagem junto do nosso povo que lhe paga o ordenado? Será que não há nada melhor que o 23 no PSD para fazer este papel? Valha-nos Deus.

Paulo Freitas