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Sérgio Marques renunciou. Não é a primeira vez no seu percurso político

Boa noite!

Sérgio Marques renunciou. Não é a primeira vez no seu percurso político. E nesse capítulo revelou-se “coerente”. Já havia sido assim quando lhe deram o sexto lugar na lista das Europeias quando desejava ser terceiro.

Insaciável, quando não obtém o que pede, torna-se “social-democrata de pensamento livre”. É nessa condição que passará a ser tratado de hoje em diante, embora, como se percebe pelas reacções previsíveis de quem fica órfão de aliado útil, a vitimização em curso possa torná-lo também como mais um mártir do sistema, o mesmo que, com a sua cumplicidade, processou inocentes, calou revoltados, privilegiou clientelas, perseguiu os diferentes e não inaugurou grande parte do povo estoico que contentou com o cognome de “superior”, os subsídios sem critérios e as borlas.

Após saber-se que ocupava lugar de destaque entre os mais ricos políticos no activo, com números que geram estranheza pela dimensão, associada a quem sempre viveu da política, e de declarações inequívocas sobre o estilo de governação actual do PSD na Madeira, o desfecho era inevitável. Mesmo assim, tentou tudo para minimizar estragos. Primeiro, alegou um perverso ‘off’ que o jornalista do DN garante ter sido ‘on’. Depois tentou remeter para o passado o que chamuscava o presente, cometendo a imprudência de principiante, a de aceitar participar num programa da RTP-M gravado à tarde, quando ao final do dia, se é que domina a agenda e práticas jornalísticas com décadas – sim, a imprensa, a tal que julga submissa, faz perguntas! -, saberia que Miguel Albuquerque não lhe pouparia a desfaçatez de pôr o País a olhar de repente para a Madeira em ano de eleições regionais, desviando atenções num contexto em que os escândalos sucessivos queimavam o governo de Costa em lume típico de espetada regional.

Apesar das agências de comunicação terem tentado em vão apagar “as obras inventadas” do mapa mediático, recolocando de imediato o caso Paulo Cafôfo já com quatro anos na ordem dia, as últimas 24 horas foram eloquentes. Depois de Miguel Albuquerque apontar a porta de saída, o deputado demissionário ficou entregue a si próprio. Nenhum parlamentar do PSD-M na Assembleia Legislativa da Madeira saiu em sua defesa, sobretudo quando o líder do PS-M surfou e bem a onda que Sérgio Marques gerou a dois tempos e que se agigantou à conta de hesitações e emendas engendradas pelo próprio. Aliás, muitos da primeira e segunda fila social-democrata não foram a jogo no período antes da ordem do dia. E quem lá esteve deixou bem claro que o ex-secretário regional... já era.

Sérgio Marques não é ingénuo. Sabia que, mesmo optando por outro enquadramento parlamentar, dificilmente teria condições políticas para prosseguir aquela que assume ser a sua linha de actuação, “a participação na política ativa, pugnada pela social-democracia e pela liberdade”. Mas também sabia que pondo-se a jeito num contexto pré-eleitoral, poderia estar a contribuir para fragilizar um poder com décadas e fazer estremecer a frágil maioria. Se assim for, quem será o próximo a renunciar? E a favor de quem?