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Analistas perspectivam subidas menos agressivas das taxas de juro

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O novo ano vai trazer uma redução dos balanços dos bancos centrais e subidas menos agressivas das taxas de juro, segundo os analistas consultados pela Lusa.

Depois de um ano cuja subida agressiva das taxas de juro pelos bancos centrais, para tentar conter a escalada da inflação, pôs fim ao dinheiro barato e à política expansionista, os analistas consultados pela Lusa antecipam que a política monetária continuará a ser restritiva no próximo ano.

"Espera-se que os principais bancos centrais -- Reserva Federal norte-americana (Fed), Banco Central Europeu (BCE), Banco de Inglaterra (BoE) e até o Banco Central do Japão (BoJ) continuem a adotar uma política monetária mais restritiva, seja com subida das taxas de juro, seja através da retirada de estímulos como seja a venda das obrigações de compraram nos últimos anos, reduzindo assim o seu balanço", considera Pedro Lino, presidente executivo (CEO) da Optimize Investment Partners.

É precisamente aliado a um abrandamento no aumento das taxas de juro que também Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, espera, quer por parte do BCE, quer da Fed, "uma aceleração" dos Quantitative Tightening (QT), isto é, o aperto do balanço -- uma ferramenta de política monetária restritiva para diminuir a quantidade de liquidez na economia --, de forma a "mitigar ou mesmo reverter a atual inclinação negativa das curvas de rendimento que, além de indiciarem uma tendência económica recessiva, têm penalizado sobretudo os tomadores de empréstimos indexados a taxas de juro de curto prazo".

O QT surge como resposta ao aumento significativo do balanço acumulado dos bancos centrais, acentuado pela compra de dívida durante a pandemia para estimular a economia.

O BCE já anunciou que em março a carteira do APP ('asset purchase programme') diminuirá "a um ritmo comedido e previsível, dado que o Eurosistema não reinvestirá todos os pagamentos de capital de títulos vincendos", sendo a diminuição, em média, de 15 mil milhões de euros por mês até ao final do segundo trimestre de 2023 e o ritmo subsequente "determinado com o tempo".

A alteração irá afetar, assim, a partir do próximo ano vários países da zona euro, cujo principal comprador de dívida é o banco central, depois de pela primeira vez em 11 anos, em julho, o BCE ter subido as taxas de juro, dando início a uma série de mais três aumentos que no final do ano totalizaram 250 pontos base e que, após a reunião de dezembro, colocam atualmente a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito em 2,50%, 2,75% e 2%.

O BCE já avisou que, devido à revisão em alta substancial das perspetivas quanto à inflação, espera continuar a aumentar as taxas de juro de forma "significativa". No entanto, os aumentos 'jumbo' de 75 pontos base ficaram em 2022, segundo os analistas.

"O BCE terminou com as subidas de juros de 0,75%, e indicou que iria subir pelo menos duas vezes em 0,5% e várias de 0,25%. É um discurso muito agressivo, que não creio que possa ser exequível, e por isso penso que o BCE irá a partir de junho dar prioridade à redução do seu balanço", considera Pedro Lindo.

Também para Filipe Garcia, presidente da IMF -- Informação de Mercados Financeiros, será "improvável" haver "subidas da mesma magnitude em 2023" das que se assistiram em 2022.

Assim, Pedro Lino prevê que a taxa terminal na zona euro se fixe nos 3%, considerando que com uma taxa superior o BCE "arrisca a ter um problema sério, dadas as pressões a que a economia europeia está sujeita".

Miguel Faria e Castro, economista na Federal Reserve Bank of St. Louis, realça que a Europa tende a seguir "com atraso em termos macroeconómicos os Estados Unidos", pelo que acredita que "em breve" far-se-ão sentir "os primeiros efeitos das alterações das taxas de juros do BCE".

Dando nota de que o banco central norte-americano "já começou a abrandar um pouco", admite que "se, de facto, os indicadores começarem a melhorar não ficaria surpreendido se [as subidas] começassem a acalmar e até parassem", porque, diz, o principal desafio é: "como é que conseguimos contrair a economia o suficiente, sem causar uma recessão".

"Há o risco de sobrereagir, que os bancos centrais querem evitar", assinala, até porque, recorda, a inflação nos EUA será menos sensível do que na Europa à evolução da guerra, grande fonte de incerteza.

Neste contexto, Paulo Rosa recorda que "de acordo com os futuros negociados na bolsa de derivados de Chicago sobre as taxas de juro da Fed, tudo indica que esta procederá a dois aumentos de 25 pontos base em cada uma das suas primeiras duas reuniões do próximo ano, a 01 de fevereiro e a 22 de março, fixando a taxa no final no intervalo 4,75% a 5%.

Por seu lado, no seu 'outlook global' o banco ABN AMRO destaca que se os decisores "aumentarem demasiado as taxas de juros, poderão reajustar mais tarde, mesmo que isso possa provocar prejuízos à economia do que de outra forma".

"Isso é visto como sendo um mal menor. Se aumentarem muito pouco e a inflação se consolidar, precisam carregar no travão com mais força depois, provocando uma recessão mais longa e profunda", salienta.

O Banco Central do Japão, por exemplo, manteve a taxa de juro em -0,1%, e como, refere uma nota de 'research' da consultora BA&N, "quando se esperava um final de ano 'amigável' por parte dos bancos centrais, este anúncio mostra como estes estão determinados no combate à inflação".

No entanto, nas perspetivas para 2023 também a BlackRock considera "que a narrativa da 'politica de inflação' está perto de mudar".

"O ciclo de subidas das taxas de juro irá parar sem que a inflação esteja de novo nos níveis pretendidos. À medida que os prejuízos económicos se tornam evidentes, a "politica de recessão" assumirá o seu lugar", antecipa a gestora de ativos.