Análise

Sensacionalismos

Comandante da PSP na Madeira quis ser populista. É moda atacar quem dá notícias

Uma das missões do jornalista credível é ser aliado no combate ao sensacionalismo, a essa perigosa tendência para produzir emoções nas massas através de notícias ou atitudes espectaculares ou chocantes. E a melhor forma de o fazer é pautar o exercício da profissão pelo rigor, que valoriza a verdade e a transparência e não dispensa a verificação e o contexto.

Todos sabemos quem pratica os expedientes ditados pela frenética guerra de audiências e por isso estranhámos a generalização abusiva do comandante da PSP na Madeira. Respeitamos muito a Polícia, mas ouvir Luís Simões garantir que “as questões de segurança pública são demasiado importantes para serem analisadas com base em notícias sensacionalistas ou discursos populistas” é deveras preocupante. Sobretudo porque dá lastro a modas perigosas que atacam quem escrutina em vez de punirem quem prevarica.

É confrangedor que num contexto em que abundam provas irrefutáveis de assaltos e de roubos, de tráfico de droga e de violência doméstica, de mendicidade e de comportamentos desviantes, aspectos que até a própria PSP mediatiza sempre que efectua detenções; em que há pedidos públicos de reforço policial; e em que há discursos de várias famílias políticas a sinalizar delinquência abundante sem que se veja Polícia por perto, custa ouvir uma argumentação que atenta contra a realidade e que, com postura alegadamente irónica, sugere uma “iniciativa Legislativa para limitar o número de provas desportivas na via pública e limitar o número de arraiais na Região”.

Num discurso repleto de passagens merecedoras de reparo, sobre as quais importa reflectir de forma ponderada, de pouco valeu a resposta de Miguel Albuquerque sobre um inevitável “suicídio político”, caso fosse posto em prática o desiderato do comandante. Talvez porque também o presidente do Governo não foi assertivo quando garantiu que “nunca vivemos com tanto segurança e com tão pouca violência como nos dias de hoje”.

Senhor comandante, sensacionalismo seria dar notícias sem enquadramento ou deliberadamente forjadas para beneficiar quem quer que fosse, mesmo que com peso social inquestionável.

Sensacionalismo seria divulgar o preço dos serviços remunerados em alguns eventos, sem que percebesse qual o caderno de encargos e as especificidades de tamanha adjudicação.

Sensacionalismo seria revelar a identidade de todos quantos ao serviço no último Rali Vinho Madeira permitiram que fossem violadas regras de segurança, permitindo que espectadores irresponsáveis no interior de classificativas atravessassem a estrada com a prova a decorrer.

Sensacionalismo seria fatiar o orçamento de várias provas desportivas e enfatizar a percentagem que cabe à Polícia.

Sensacionalismo seria exibir vídeos e fotos de acções policiais que desrespeitam o que há de elementar em capítulos como o direito à privacidade e à legítima defesa.

Sensacionalismo é aquilo que se verifica noutras paragens e que rendem notícias por espelharem o ridículo dos protagonistas que lhes dão origem e às quais estão associadas. Por exemplo, distribuir 8,2 milhões de euros por 320 projectos candidatos a programas como o ‘Inicie +’ e o ‘Digital’ é gozar com quem trabalha e tem expectativas. Quem é o mago da economia regional que acha que alguém consegue ‘alavancar’ candidaturas de grande envergadura e alcance com apenas 25 mil euros, o valor médio dado a cada empresa?

Mas há mais. Sensacionalismo é vender como reforços jogadores que chegam a clubes profissionais na Madeira e não têm lugar na equipa principal. Quem são os estrategas da bola que compram por atacado ou pedem emprestados craques que não jogam e estrelas que não brilham?

E sensacionalismo é ainda disfarçar com propaganda casos que a rebentarem em breve vão fazer rolar cabeças antes das ‘Regionais’ de 2023.