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Vamos rifar o coração

Próximo ano é ano de eleições. Saibamos “rifar o nosso coração”. Não nos contentemos com galinhas amarelas, ou remédio de rato

Em política, agosto e setembro são denominados meses de silly season, porque são meses de férias e normalmente nada se passa de relevante. Mas este ano não foi assim.

A Ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou a sua demissão, o Primeiro-Ministro António Costa aceitou e já foi nomeado um novo Ministro – Manuel Pizarro. Com um Governo PS com maioria absoluta na Assembleia da República bem podiam manter a Ministra. Mas, perante os acontecimentos, Marta Temido reagiu com honra, apresentando a sua demissão. Não se pode admitir o que se passa nas urgências dos hospitais e sobretudo que grávidas parturientes tenham de andar de um lado para outro para terem os seus filhos. Mas se reconheço dignidade nesta atitude de Marta Temido, fiquei surpresa com as declarações do Secretário Regional da Saúde, Pedro Ramos. Não será que ele só se mantém no cargo porque o PSD-Madeira detêm a maioria na Assembleia Regional à conta da coligação com o CDS/PP?

Próximo ano, teremos eleições regionais e parece que a política cá na terra se faz numa luta de audiências. A deslocação às festas não significa apoio político. Engana-se quem acha que as pessoas que se deslocaram ao Chão da Lagoa foram-no para dar apoio ao PSD-Madeira. Engana-se também quem acha que a enchente na festa na Madalena do Mar demonstra um apoio ao PS-Madeira. As pessoas foram ao Chão da Lagoa ver e ouvir os Anjos e foram à Madalena do Mar para ver e ouvir Mateus Damásio. E vivam as festas que, depois da pandemia, o que as pessoas querem é abanar o capacete.

Caricato foi a rentrée do CDS-PP, na Festa dos Romeiros, em São Vicente. A presença foi modesta. Será esta fraca adesão representativa da situação vivida neste partido? Quem te viu e quem te vê.

Uma boa oposição faz um bom governo. Dizer umas papaias e não estabelecer uma estratégia integradora das ideias de forma transversal a todos os assuntos não é fazer boa oposição. É preciso olhar o partido como um todo. Não se podem ter posições diferentes a nível de câmaras municipais, de juntas de freguesia, de governo regional e de governo da república (para quem tem representação em todos estes órgãos). Sobre um assunto, é preciso passar a mesma mensagem.

Analogamente, o PSD-Madeira não pode vir a público afirmar que está preocupado com o aumento dos preços de bens essenciais e depois ter a Câmara Municipal do Funchal, através do seu Presidente Pedro Calado, afirmar que deu parecer negativo à instalação de um supermercado Lidl, na Cruz Vermelha, justificando que tal infraestrutura irá trazer mais contentores ao centro do Funchal e prejudicar o trânsito. Valha-nos Nossa Senhora!

Por esta ordem de ideias o que dizer do Supermercado Modelo à Rua do Seminário e do Pingo Doce no Anadia e no La Vie? É sempre possível, cumprindo com o PDM, arranjar uma solução para a abertura de um espaço Lidl naquela área. Será que ainda não perceberam que isto pode ser uma solução para diminuir preços? Nem todos os funchalenses têm carro para ir fazer compras ao Poço Barral (ex-Aki), ou à Avenida Mário Soares, em São Martinho.

Todos os economistas sabem que a concorrência conduz a uma diminuição de preços. Ninguém está contra o lucro pois todas as empresas precisam de sobreviver, mas os preços praticados estão a permitir lucros pornográficos. A entrada do Lidl na Madeira irá, com toda a certeza, diminuir os preços nos bens alimentares.

E não me venham com a desculpa do trânsito na Cruz Vermelha pois, mesmo sem o Lidl, a situação é caótica nas horas de ponta. Sinal de que a circulação implementada não está correta. Se até no Largo do Município se prevê obras para construir um parque de estacionamento (que traz mais carros à cidade) por que razão não se pode estudar formas de melhorar o trânsito naquela zona? E já agora considerando a existência de um Lidl. Haja boa vontade!

Isto não são justificações. Ou será que existem outras razões?

A maior força a favor da abertura deste espaço Lidl somos todos nós ao manifestarmos o nosso apoio. Próximo ano é ano de eleições. Saibamos “rifar o nosso coração”. Não nos contentemos com galinhas amarelas, ou remédio de rato, quando podemos ter uma diminuição generalizada de preços e ter uma alimentação mais equilibrada. Merecemos mais e melhor!