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Oposição denuncia "terrorismo de Estado" em Madagáscar após 19 mortos em manifestação

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O líder do maior partido da oposição de Madagáscar acusou hoje o Governo de "terrorismo de Estado", após 19 mortos numa manifestação em que a polícia atirou contra a multidão enfurecida com o desaparecimento de uma criança albina.

A polícia abriu fogo na segunda-feira contra centenas de pessoas que tentaram entrar num dos seus quartéis em Ikongo, uma cidade no sudeste da ilha, para fazer justiça pelas suas mãos.

As autoridades prenderam quatro suspeitos de estarem envolvidos no desaparecimento da criança albina, na semana passada, e a multidão exigiu que os alegados envolvidos lhes fossem entregues.

Os polícias, que invocaram ter agido em legítima defesa, anunciaram na terça-feira o balanço de 19 mortos e 21 feridos.

De acordo com uma fonte da polícia presente no local, pelo menos 500 pessoas juntaram-se à porta do quartel da polícia, algumas das quais armadas com "armas brancas" e "facões".

"Estou falando de terrorismo de Estado porque foram os guardas e a polícia que atiraram contra a população. Eles devem proteger as pessoas e não atirar nelas. Estou muito chocado", disse o líder do maior partido da oposição, Tiako I Madagasikara, que foi presidente de Madagáscar de 2002 a 2009.

A porta-voz do Governo, Lalatiana Rakotondrazafy, reagiu dizendo que "falar de terrorismo de Estado sem conhecer as circunstâncias precisas da tragédia é pura provocação".

A responsável do executivo considerou também "inadmissível" tais observações vindas de um ex-chefe de Estado.

Lamentando "a perda de vidas", a porta-voz acrescentou: "Não podemos fazer justiça com as nossas próprias mãos e as pessoas devem respeitar a lei: todos devem assumir a responsabilidade para que esse tipo de tragédia não aconteça novamente".

As autoridades abriram uma investigação e o ministro da Defesa, Richard Rakotonirina, prometeu que as "sanções necessárias" seriam aplicadas.

A polícia não deu informações sobre o destino dos quatro suspeitos.

Reforços foram postos em prática "para manter a calma" em Ikongo, cidade a cerca de 350 quilómetros da capital, Antananarivo.

Os fenómenos da vingança popular são frequentes em Madagáscar.

Em fevereiro de 2017, também em Ikongo, 800 pessoas invadiram uma prisão à procura de um suspeito preso por assassinato que queriam linchar. A multidão dominou os guardas, permitindo que 120 presos escapassem.