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O rei e o filósofo, a virtude das vestes

Sábio convocado pelo saber, recebido por causa das vestes

Na antiguidade um rei percorreu o reino com a sua luxuosa corte. Em todas as terras os cidadãos com fatos domingueiros curvavam-se em respeitosas vénias, o soberano ouviu louvores e recebeu oferendas. Apesar da aparente felicidade, porém, o rei pressentia que o povo não estava satisfeito.

O filósofo malvestido

O monarca mandou chamar um sábio filósofo, que diziam ser bom conselheiro. O rei queria saber o que fazer para bem governar e fazer o povo feliz. O filósofo, que vivia de modo simples, dirigiu-se à corte, mas os guardas não o deixaram entrar por usar roupas velhas e não apropriadas para entrar no palácio. O velho sábio bem explicou que foi o rei quem o convocou, mas os guardas não acreditavam. Como pode o rei querer ouvir um velho malvestido?

O poder das vestes

O filósofo pediu a um amigo uma rica toga emprestada e voltou ao palácio. Desta vez, os guardas nada questionaram e deixaram-no entrar. Ao ser presente ao soberano, o sábio disse que foi convocado por causa do saber, mas apenas conseguiu entrar por causa das vestes.

O rei, incomodado, desabafou a sua angústia, o que fazer para o povo ser feliz. O filósofo sugeriu que o rei vestisse roupa de cidadão e, disfarçado, viajasse pelo país. Desse modo, conheceria o seu povo e saberia o que fazer. Assim foi feito, o rei vestiu-se de simples cidadão e numa carroça puxada por um burro deu uma volta pelas aldeias com um seu pajem, também vestido de cidadão simples.

A real experiência

Logo numa das primeiras aldeias, o rei ouviu falar de um assalto a um celeiro por pessoas famintas. Havia pouco dinheiro e os cidadãos maldiziam porque a pobreza alastrava. Muitos eram os pedintes e os vadios que dormiam nas ruas. Mais desiludido ficou ao ver que os camponeses mal tinham para comer, mas os representantes do rei cobravam, como imposto, elevadas quantidades de trigo e outros produtos.

Governo do povo

O rei regressou ao palácio desgostoso, o país que acabava de ver não era o país que pensava existir. O soberano mandou devolver o trigo cobrado como imposto, ordenou que simplificassem as vestes da corte, eliminou as pomposas festas, cortou privilégios, mandou distribuir pelos pobres os bens supérfluos da corte, entre outras medidas. Os fidalgos da corte pensaram que o rei tinha enlouquecido e logo arquitetaram um plano para o substituir. O rei, porém, passou a ter cada vez mais o povo ao seu lado e manteve um reinado feliz.