Artigos

Quem tem olhos que veja

A tendência é assumir que quem não concorda, ou tem opinião diferente, está contra, quando simplesmente pode ter apenas uma opinião diferente

Hoje comemora-se o dia em que a cidade do Funchal foi elevada a cidade. Foi a 21 de agosto de 1508 que o Rei D. Manuel I decretou, através de carta régia, a elevação do Funchal a cidade. O dia tem um significado importante, apesar de grande parte dos funchalenses só pensar no feriadinho que poderia ter ganho se o dia fosse um dia de semana. Consola-nos o facto de no próximo ano este dia dar-nos direito a um fim-de-semana prolongado. Abençoado feriado.

Desde sempre o Funchal assumiu uma importância acrescida no desenvolvimento da nossa Região. Desde sempre é onde vive grande parte da população e sempre constituiu um Pólo de desenvolvimento económico. Na altura da sua elevação a cidade, era também ponto de passagem para outras paragens. Hoje, continua a ter a sua relevância demográfica e de desenvolvimento económico do território.

É por isto que a tomada de poder da Câmara Municipal do Funchal é um facto político importante no contexto político regional. As últimas eleições autárquicas foram uma grande vitória do PSD-Madeira para a manutenção do poder do PSD-Madeira no Governo Regional no próximo ano.

No próximo ano, por estes dias, estaremos em plena campanha eleitoral e parece mentira que já se passaram 3 anos. O que era para ser feito, já está. O que não foi feito, será ou não feito no próximo mandato. A partir de agora trabalha-se para o engodo na caça ao voto das próximas eleições. Benesses (a quem conseguir) antes das eleições ou promessas ad aeternum (sabe-se lá se alguma vez terão) na procura de votos. O que interessa é prometer.

Sondagens valem o que valem, mas devem servir de análise para a correção, ou manutenção, de estratégias para a conquista do poder. Uma primeira sondagem sobre as próximas eleições regionais dá um resultado folgado ao PSD-Madeira. Das projeções efetuadas apenas retiro que os resultados demonstram o sentimento da população. Para uns, uma grande desilusão e desmotivação nestes últimos 3 anos, e, para outros, uma forte convicção no seu partido.

O método de Hondt é tramado. Favorece os partidos com maior número de votos. Mesmo que haja uma diminuição de número de votos num grande partido, a verdade é que a dispersão num número alargado de partidos determina a eleição de mais deputados nos partidos mais votados. Goste-se ou não, isto é matemática pura e dura.

Entretanto, estes 3 anos foram ricos em decisões pessoais naquilo que achavam que deveriam fazer, inclusive para a salvar a pele. O problema é que a Lei do Retorno é lixada.

Não ouvir e não ter coragem em certas ocasiões pode ser a morte do artista. Costumo dizer que em política a melhor qualidade pessoal é a resiliência. Vejamos o Presidente Marcelo. Por tantas vezes foi derrotado e, por fim, venceu. E mantém-se no auge da hierarquia nacional.

Por isso, será interessante ouvir os discursos das comemorações do Dia da Cidade do Funchal deste ano. Calado em entrevista já assumiu que será candidato às próximas eleições autárquicas de 2025. Também não tem alternativa. Apesar do seu objetivo ser o de tornar-se Presidente do Governo, sabe que qualquer tática antes deste calendário poderá dividir de forma fraturante o partido e as consequências seriam desastrosas. Albuquerque é um candidato a prazo. Mas Pedro Calado tem de aguardar o seu tempo. Esperemos que não tenha nenhum azar pelo caminho. O que hoje é, amanhã será ou não.

Será interessante também ouvir o que o CDS/PP tem para dizer. Isto é, se tiver direito a discursar. Nem sei se tal será o caso face às confusões recentes de substituição de vereadores e de completa anulação na tomada de decisões municipais. Na verdade, para a população estas questões valem zero. O que as pessoas querem é ver os seus problemas resolvidos. Ainda que tenha a sensação da letra da canção “Tell me lies, Tell me sweet little lies”, gostaria de ouvi-los.

O pior que nos pode acontecer na análise política é sofrermos de cegueira intelectual. Infelizmente, para mal da nossa democracia, muitos são infetados por este tipo de doença o que lhes impede de raciocinar e tomar medidas para alterar o paradigma existente. A tendência é assumir que quem não concorda, ou tem opinião diferente, está contra, quando simplesmente pode ter apenas uma opinião diferente. O autismo político é fatal. Já o povo diz, quem te avisa, teu amigo é.

Ouvir e respeitar é uma arte. E comodismo com a situação atual não é solução porque a vida arranja sempre forma de nos dar a volta. Quem tem olhos que veja para bem de todos nós.