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Recado de Verão

Hoje o meu artigo será em forma de recado para colocar algumas cabeças a pensar, mesmo em tempos de férias de verão. Estou limitada para escrever, porque sou destra e lixei o braço direito. O texto é mais pequeno como os recados devem ser. Boas férias para quem as goza. Boa saúde para toda a gente.

Durante os dois meses mais importantes do verão parece que mudam as prioridades na vida da maioria das pessoas. Se por um lado ainda se publicam algumas estatísticas a confirmarem que somos das Regiões com mais pobres do país, e ouvem-se vozes a dizer que a corrida aos pedidos de bens alimentares não para de crescer (inclusive ouvi uma senhora afirmar que há fome na Madeira), na mesma notícia noticia-se a corrida do povo aos arraiais, onde a carne que é vendida esgota-se ultrapassando todas as expetativas dos comerciantes. As caras que aparecem de espeto na mão são do povo, que no geral saiu de dois anos de jejum, como se não houvesse amanhã.

Não tenho nada contra quem assim faz, porque cada pessoa tem o direito a se divertir como bem quiser. A questão é se perceber que algumas destas pessoas são também as mesmas que recorrem à sopa dos pobres e aos bens alimentares para poder sobreviver nos outros dias.

Claro que podem dizer que uma coisa nada tem a ver com a outra, que os pobres têm direito à diversão e a comer espetada como as outras pessoas. Claro que sim. Concordo plenamente. No entanto, há algo de errado em tudo isto. Pelo menos na maneira como tudo e todos ficam expostos. Na mesma notícia que diz existir um aumento em crescendo dos pobres que passam fome, fala-se no aumento das toneladas de carne para as espetadas, o frango no churrasco e até na quantidade de farinha adquirida para o bolo do caco. Numa altura em que a inflação tem vindo a disparar em flecha…

Sou e sempre fui defensora do direito à dignidade das pessoas. Não gosto de caridade, gosto do direito a ser ajudado. Cada pessoa devia ter direito a um rendimento básico incondicional que permita sobreviver, independentemente do seu trabalho, de maneira que consiga gerir a sua vida sem ter que recorrer a qualquer caridadezinha. Quem não souber gerir, há imensas Instituições que podem ajudar na emancipação das pessoas, e dar ferramentas de literacia financeira. Isto sim é que acabava com as situações dúbias que proliferam por aí, e dava dignidade a todas as pessoas.

Pelo menos pensem nisto…