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Transportes e Turismo: o custo da sustentabilidade

Ao nível dos combustíveis, é crucial ter a noção que nesta transição os custos vão aumentar, sobretudo na aviação e no marítimo

Detentoras de uma biodiversidade rica, mas frágil, e de um ecossistema muito vulnerável às alterações climáticas, as ilhas são, por natureza, regiões que têm de estar na linha da frente da implementação de políticas que visem mitigar os efeitos negativos. Também pela sua beleza, são muito procuradas por turistas, sendo a indústria do Turismo, na grande maioria, a sua principal fonte de rendimento.

A União Europeia enfrenta um enorme desafio; o da redução em 55% das emissões de CO2 até 2030. Faltam menos de 8 anos, plenos de sacrifício e, inevitavelmente, restrições, numa transição que não será fácil e que deve ser comunicada às pessoas de forma clara. Num recente barómetro sobre melhores hábitos de consumo, identificou-se que 86% dos europeus revelam-se dispostos a pagar mais por um estilo de vida sustentável. Estamos cientes do esforço a que todos estaremos sujeitos?

As grandes transformações vão fazer-se sentir nas cidades, nas quais se concentra hoje cerca de 70% da população europeia. Segundo projeções recentes, este valor deve atingir os 80% em 2050. Um quarto das emissões do sector dos transportes é proveniente das cidades, sendo o mesmo responsável por 25% das emissões totais de CO2 na União.

Para obstar estes problemas, a Comissão Europeia elaborou um pacote de propostas legislativas com enfoque nos transportes, e que vai influir na própria organização das cidades. Concordo com as propostas de mais investimentos nas infraestruturas de apoio, nos portos, aeroportos e no planeamento rodoviário - parques e postos de carregamento -, numa rede de transportes públicos robusta, em terminais multimodais como centros de entrada e redistribuição dos fluxos, importante sobretudo para as cadeias logísticas, evitando-se mais carros nos centros urbanos e que aqueles que entram sejam de dimensões mais reduzidas e mais sustentáveis. Apoio novas soluções digitais para gerir melhor os fluxos através da complementaridade entre diferentes serviços, numa lógica de evitar o congestionamento nos centros.

Ao nível dos combustíveis, é crucial ter a noção que nesta transição os custos vão aumentar, sobretudo na aviação e no marítimo. Apesar das derrogações que apresentámos no Parlamento Europeu para as Regiões Ultraperiféricas, esta migração será inevitável.

O caos nos aeroportos europeus pode ter vindo para ficar, pelo que é de contar com tarifas aéreas mais altas, fruto dos aumentos da estrutura de custos das companhias e eventual diminuição de rotas. No sector marítimo, a mesma coisa. A fase incipiente da indústria de produção de combustíveis sustentáveis vai implicar um choque ainda mais profundo, com inevitável aumento de preços e crítico no transporte de mercadorias.

Julgo ser fundamental, à luz destes factos, aproveitar muito bem todos os fundos disponíveis até 2027 - o Portugal 2030 e o PRR -, algo que Portugal não tem feito, considerando os dados de execução deste último. O relatório de monitorização do PRR, de 13 de julho, revelava que dos 5 571 milhões aprovados, apenas 730 milhões foram pagos (13,1%), isto num bolo total de 16 mil milhões que deve ser investido até 2026.

Não fazer já investimentos estruturantes, é chegar a 2030 sem condições de cumprir a meta dos 55%, e quanto mais tardarmos, mais dolorosa será esta transição.

A transformação das cidades e do sector dos transportes vai gerar sinergias muito positivas num sector alavanca da economia de Portugal e em particular da Madeira, o Turismo.

É fundamental considerar que o turista de hoje valoriza destinos sustentáveis e está disposto a pagar mais por essa diferenciação. Como destino turístico julgo crucial iniciar-se já um debate sustentado sobre as polémicas taxas turísticas – que só serei favorável se as mesmas se converterem em sustentabilidade efetiva do destino. E não menos importante é que se faça dos fundos europeus a verdadeira almofada financeira desta transição, onde não se permita que a ambição ambiental, promova a destruição empresas.