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"Retrato devastador" de Trump e possível acusação judicial após comissão sobre Capitólio

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A oitava audiência da comissão parlamentar sobre o assalto ao Capitólio traçou, segundo várias reações, "um retrato devastador" da conduta de Donald Trump e reforçou o potencial de um "processo criminal" contra o ex-presidente pelo Departamento de Justiça. 

A audiência focou-se nos 187 minutos em que Donald Trump se recusou a tomar medidas para controlar a violência que tinha estalado com a invasão do Capitólio. 

"Este é um retrato devastador não apenas de abandono do dever, mas de depravação e de desordem pelo presidente dos Estados Unidos", disse após a audiência George Conway, advogado conservador e marido da ex-conselheira de Donald Trump KellyAnne Conway. 

"Ele sentou-se naquela sala durante três horas a ver a Fox News, a ver as pessoas a cometerem violência no Capitólio. E ele queria que aquilo acontecesse", disse o republicano na emissão da CNN. 

A audiência teve o testemunho presencial do ex-vice-conselheiro de segurança nacional, Matthew Pottinger, e da vice-secretária de comunicação da Casa Branca, Sarah Matthews. Ambos falaram das tentativas falhadas de persuadir Trump a tomar medidas firmes para controlar a situação. 

Em resposta, Donald Trump publicou uma declaração oficial dizendo que "não conhecia" Sarah Matthews e que esta está à procura de "15 minutos de fama", citando afirmações anteriores dela que lhe eram favoráveis. 

Adicionalmente, Trump usou a sua rede Truth Social, que tem uma estrutura similar ao Twitter, para alegar que a comissão é "corrupta", "altamente partidária" e veiculou "mentiras e deturpações" na audiência. 

A comissão parlamentar mostrou as versões não editadas das mensagens em vídeo que Donald Trump seria convencido a gravar a 6 e 7 de janeiro, imagens que mostram as reticências do ex-presidente em condenar a violência e aceitar o resultado da eleição. 

"Tornou-se claro como essas declarações foram totalmente insinceras", considerou Chris Wallace, ex-apresentador da Fox News. "Ele não queria condenar os manifestantes", continuou, referindo que Trump só disse alguma coisa porque havia rumores de que ia ser acionada a 25ª Emenda para o retirar do poder por incapacidade de liderar. 

No rescaldo da audiência, que foi transmitida em horário nobre na costa Leste dos Estados Unidos, o congressista republicano Adam Kinzinger disse que as provas reforçam a "exposição criminal" de Donald Trump. 

"Penso que provámos, não apenas nesta audiência, diferentes componentes de um caso criminal contra Donald Trump e pessoas à sua volta em todas as audiências", afirmou. "Na sua totalidade, isto representa a maior tentativa desde a Guerra Civil para subverter a vontade do povo e de conspirar contra a democracia americanacontinuou".

"Penso que provámos isso e agora cabe ao Departamento de Justiça tomar uma decisão", adiantou. 

A pressão sobre o Departamento de Justiça, liderado pelo procurador-geral Merrick Garland, tem aumentado desde que começaram as audiências públicas da comissão parlamentar, a 09 de junho. 

Na semana passada, o líder Bennie Thompson revelou que a comissão está a cooperar com a investigação do Departamento de Justiça. Não há informação concreta sobre a possibilidade de Donald Trump ser formalmente acusado de um crime pelo seu envolvimento na tentativa de impedir a certificação da vitória de Joe Biden e o ataque ao Capitólio. 

Kinzinger frisou que a intenção não é tornar os Estados Unidos num país em que a próxima administração persegue a anterior, algo que acontece "em democracias falhadas". 

No entanto, o membro da comissão referiu que esta situação é perigosa. "Se nos tornarmos num país que aceita tentativas de golpe e de subverter a vontade do povo americano, não iremos sobreviver a isso", considerou. "É um precedente insustentável para este país". 

A comissão regressará com mais audiências públicas em setembro.