Humanizar as cidades

Quando alguém se lembrar de investir em políticas sociais, lembre-se de criar Parques Urbanos. Faça-o enquanto sobra algum espaço em meio urbano livre da voragem da especulação imobiliária, deixando a sua marca. Isto aplica-se sobretudo a centros urbanos em expansão. Mas para explicá-lo, convém fazer uma pequena resenha histórica sobre a sua origem. Os primeiros Parques Urbanos remontam a meados do Séc. XIX, dois dos quais em Inglaterra, como o Victoria Park em Londres e, posteriormente, o Birkenhead Park em Liverpool, este último considerado o primeiro parque urbano criado com financiamento público. Em 1851, já o Estado de Nova Iorque toma medidas jurídicas para garantir a posse pública de cerca de 400 hectares de terrenos para a construção do actual Central Park. A necessidade de se criar Parques Urbanos surge em sintonia com o pensamento humanista da época e também de correntes do socialismo utópico, que viam na concepção destes Parques Verdes, uma medida “sanitarista”, que vinha trazer melhores condições de higiene e salubridade às cidades.

Visava ainda criar nestes parques, um espaço livre de segregação, onde pessoas de qualquer condição pudessem a eles aceder e sair da normativa que dá às outras infraestruturas urbanas, uma utilidade específica e condicionadora de comportamentos. Um parque urbano vem dar liberdade a grupos prejudicados pela ausência de espaço, como as crianças, os adolescentes e os idosos. São vistos como uma enorme contribuição do urbanismo para humanizar as cidades. E quando se humaniza uma cidade, estamos a investir (também) em políticas sociais.

Os princípios que presidem à criação destes parques são os seguintes: criar um espaço público aberto a toda a gente sem qualquer discriminação de raças, de idades, de sexos, de profissões, de nacionalidades ou classe social, proporcionando aos seus visitantes um ambiente de repouso, de recreio e de contemplação, bem como de convívio. Também pode ser um espaço educativo e uma fonte de saúde física e mental. É ainda um espaço informal, inclusivo, onde qualquer pessoa pode passear, correr, brincar, adormecer à sombra de uma árvore, ler, tudo sem ser discriminado por estes comportamentos lúdicos, ou ser considerado indigente. Por último, para quem brada a defesa dos pobres, aqueles que vivem em condições precárias, em habitações de dimensões diminutas, em casas sem jardins, ao contrário das que os ricos podem custear, lembre-se que a criação de Parques Urbanos vem precisamente democratizar o acesso a um conjunto de benefícios que favorece a comunidade e em particular aqueles que vivem na precariedade e aprisionados entre paredes. Não se esqueça: se quer humanizar a cidade, promova a criação de parques urbanos (enquanto é tempo).

Duarte Olim