Artigos

Ditaduras

Muito se fala em ditaduras. Se compulsarmos a história, verificamos que se encontra na antiga Roma a origem do termo. “Ditadura” do latim “dicere” (“dizer, falar, contar”) que tanto podia significar “pronunciar um texto em voz alta” como “impor ideias ou condutas, prescrever, determinar”. Na antiguidade romana, um ditador era o magistrado (ou o general) que recebia, com a aprovação do Senado, um mandato especial ou, em casos graves, poder total.

O propósito era permitir resolver situações urgentes e especiais passando mesmo, se necessário, por cima das leis. Só era utilizado em situações que pusessem em risco a estabilidade da república e tinha uma duração nunca superior a seis meses.

Ditadura, no sentido de poder absoluto ou autoritário (e por vezes vitalício), surge, apenas, no final do século XVI. A partir dessa época, começou a entender-se ditadura como um regime antidemocrático, baseado no governo de um ditador, apoiado em apenas um partido político (cuja ideologia é a única considerada correta) e na censura feroz a quem se lhe oponha.

Há ditaduras de diverso cariz: de direita, de esquerda, religiosas, monárquicas, etc. Algumas usam, inclusivamente, recursos pseudodemocráticos (eleições, por exemplo) para mascarar o seu cariz autocrático. Não existe ditadura sem o apoio das armas e o uso de violência.

Não nos esqueçamos que a repressão pode ser exercida física ou psicologicamente ou, mesmo, uma conjugação das duas. A física, caracteriza-se pela brutalidade com que os agentes da ordem mantêm a lei. A psicológica, talvez mais perigosa porque menos evidente, vai desde a propaganda política até a limitação da liberdade de expressão e de livre reunião, à homofobia, ao racismo, à xenofobia.

A utopia da “ditadura do proletariado”, criada por Karl Marx, em que a sociedade seria igualitária, quando a classe operária tomasse o poder, não passou de isso mesmo: uma utopia.

A seguir à Segunda Guerra Mundial, surgiram na Europa regimes totalitários, como consequência da crise económica provocada pela guerra. A exemplo das ditaduras, também os regimes totalitários defendem o uso da força, a eliminação dos partidos políticos e dos parlamentos o que torna, por vezes, difícil efectuar a sua distinção.

A Europa, porém, não tem o exclusivo das ditaduras.

Uma das características mais marcantes de um regime autoritário, para além do uso de meios de intimidação para controlar a população (polícia política, censura, delação) é a constante mobilização das massas e a criação de um “inimigo externo”, origem de todo o mal, que deve ser permanentemente combatido, criando a necessidade da militarização da sociedade organizada em grupos.

“Deus, Pátria e Família” ou “Deus, Pátria, Família e Trabalho”…

Os séculos XX e XXI têm sido pródigos em ditaduras e regimes totalitários, de que são exemplos: União Soviética (1917 a 1991); Itália (1922 a 1943); Portugal (1926 e 1933); Alemanha (1933 a 1945); Espanha (1939 a 1975); Paraguai (1954 a 1989); Brasil (1964 a 1985); Uganda (1971 a 1978) Bolívia (1972 a 1982); Chile (1973 e 1990); Camboja (1975 a 1979); Argentina (1976 a 1983); Iraque (1979 a 2003); Chade (1982 a 1990); China (1949); Coreia do Norte (1953); Cuba (1959); Omã (1970); Chade (1990), Eritreia (1991), Bielorrússia (1994); Venezuela (1999) …

E, nisto tudo, onde se pode enquadrar a Rússia do senhor Putin?

Concluam os meus caros leitores.