A Guerra Mundo

Crescimento do PIB mundial e da zona euro revisto para 3,3% e 2,6% este ano

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Um estudo da Euler Hermes revê em baixa o crescimento das economias mundial e da zona euro para 3,3% e 2,6% este ano, menos 0,8 e 1,2 pontos percentuais do que o inicialmente previsto, devido à guerra na Ucrânia.

No próximo ano, o cenário base da Euler Hermes, acionista da Cosec, aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deverá avançar 2,8% (menos 0,4 pontos percentuais face às anteriores previsões), enquanto a economia do euro deverá crescer 1,6% (menos 0,7 pontos percentuais).

"A escalada do conflito na Europa coloca desafios à recuperação da economia mundial e desencadeia o crescimento de riscos geopolíticos", sustenta a seguradora de créditos, salientando que "a economia da zona euro vai ser a mais afetada pela guerra, depois da economia ucraniana e da russa".

De acordo com o estudo, o crescimento económico do bloco da moeda única "vai ser afetado especialmente pela forte quebra no comércio entre a zona euro e a Rússia": "As exportações totais das maiores economias do euro para a Rússia representam menos de 2%, pelo que o impacto global será relativamente moderado. Contudo, alguns setores que dependem muito de bens oriundos da Rússia ou da Ucrânia -- como componentes para a indústria automóvel -- deverão enfrentar problemas nas cadeias de abastecimento", antecipa.

Neste contexto, a economia da Alemanha, ameaçada por "novas perturbações nas cadeias de fornecimento e preços da energia mais elevados", deverá expandir-se 1,8% neste ano (menos 1,4 pontos percentuais do que inicialmente se antecipava) e 1,6% (menos 0,8 pontos percentuais) em 2023.

Já o PIB da França deverá crescer 3% em 2022 (menos um ponto percentual) e 1,5% (menos 0,4 pontos percentuais) no próximo ano.

Ainda entre as principais economias da zona euro, a Euler Hermes estima que a Itália deverá registar a uma subida de 2,6% do PIB neste ano (menos 1,4 pontos percentuais do que o inicialmente antecipado) e de 1,2% no próximo ano (menos 0,9 pontos percentuais).

Quanto à economia espanhola, deverá expandir-se 3,9% (menos 1,6 pontos percentuais) em 2022 e 1,9% em 2023 (menos 1,4 pontos percentuais).

Pelo contrário, no que diz respeito à inflação, as previsões foram revistas em alta: As estimativas apontam agora para uma inflação de 5,5% em 2022 na zona euro e de 2,5% no próximo ano, "refletindo a subida dos preços dos bens alimentares e da energia".

As previsões da Euler Hermes para a economia norte-americana também foram revistas, antecipando-se agora um crescimento de 3,3% em 2022 (menos 0,6 pontos percentuais do que na anterior estimativa) e de 2,6% no próximo ano (menos 0,2 pontos percentuais).

"O impacto do conflito na economia norte-americana deverá fazer-se sentir por via da confiança dos consumidores, que poderá ser abalada, e pelo impacto que a subida dos preços do petróleo vai ter para a economia", refere o estudo.

Na mesma linha, também a economia chinesa deverá crescer abaixo do anteriormente esperado, apontando a Euler Hermes que o PIB real da China avance 4,9% (menos 0,3 pontos percentuais) em 2022 e 5% no próximo ano.

Segundo explica, "a revisão em baixa das perspetivas económicas para este ano da segunda maior economia do mundo reflete tanto pressões internas, como externas": "Em termos domésticos, a propagação da variante Ómicron, no âmbito da política de zero-Covid da China, vai pressionar a recuperação da procura interna. Por outro lado, a subida dos preços das matérias-primas, devido à invasão da Ucrânia, pode colocar pressão sobre os setores industriais exportadores", precisa.

No que se refere à Rússia, o estudo da Euler Hermes prevê que as implicações do conflito na Ucrânia atirem o país para uma recessão de 8% este ano, "nomeadamente pela grave deterioração das condições macroeconómicas, em especial depois da imposição de sanções que abrangem inclusivamente o setor energético".

O impacto na disponibilidade e no preço das matérias-primas é outro dos efeitos do conflito na Ucrânia destacado pela acionista da Cosec, que estima que a fatura energética das famílias nas maiores economias europeias possa disparar entre 20.000 a 30.000 milhões de euros, "tendo em conta os preços atuais do petróleo e do gás, que podem aumentar 50.000 milhões de euros, ou 2% do PIB, caso a Rússia interrompa as exportações de petróleo e gás (tanto fruto de embargos como de medidas de retaliação)".

A Euler Hermes assinala que a Rússia e a Ucrânia "são países produtores de várias 'commodities' -- como petróleo, gás, trigo, milho e sementes de girassol --, representando mais de 10% das exportações destes bens à escala global, e a guerra tem provocado volatilidade e subida dos preços".

Assim, estima que os preços do petróleo "devem continuar acima dos 100 dólares por barril enquanto o conflito se mantiver e que, possivelmente, em média, neste ano, a cotação rondará os 120 dólares por barril".

Também "elevados" devem continuar os preços do gás, "próximos dos 140 euros/MWh [Megawatt/hora]".

Ainda destacado no estudo é o impacto negativo no investimento da diminuição da confiança das empresas, cujas margens "vão continuar a ser reduzidas num contexto de preços de energia elevados e de alta das matérias-primas não energéticas, subida dos custos salariais e dos custos de transporte".