A Guerra Mundo

Ucrânia lamenta falta de progressos sobre cessar-fogo de 24 horas

None

A Ucrânia e a Rússia falharam hoje o objetivo de chegar a um acordo sobre a abertura de um corredor humanitário em Mariupol, cercada por tropas russas, e sobre um cessar-fogo de 24 horas, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano.

"Vim aqui com um objetivo humanitário: abrir um corredor humanitário para as pessoas que querem deixar Mariupol. Infelizmente, o ministro [dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei] Lavrov não estava em condições de se comprometer", disse o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, em declarações aos jornalistas após um encontro entre os dois responsáveis, na Turquia.

O ministro ucraniano admitiu que a reunião "foi fácil e difícil ao mesmo tempo", pois Lavrov manteve "o seu discurso habitual sobre a Ucrânia".

"O lugar mais crítico agora é Mariupol, bombardeada do ar e com artilharia. Vim aqui para obter um corredor humanitário que permita aos civis que quiserem, poderem fugir da cidade, e, ao mesmo tempo, trazer ajuda humanitária", disse Kuleba.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia lamentou também a falta de progresso sobre um cessar-fogo no seu país nas negociações com o seu homólogo russo.

"Falámos sobre um cessar-fogo de 24 horas no país, mas não foi feito nenhum progresso nesse sentido", afirmou, em declarações à imprensa.

Dmytro Kuleba acrescentou, no entanto, ter decidido, em conjunto com Lavrov, "continuar as negociações".

"Queríamos um cessar-fogo de 24 horas. Lavrov disse que Moscovo queria falar sobre corredores humanitários", disse, referindo que esperava conseguir um acordo para criar um corredor por onde pudessem ser retirados cidadãos de Mariupol, no sul da Ucrânia, alvo de intensos bombardeamentos russos, um dos quais atingiu um hospital pediátrico na quarta-feira.

"Vim aqui primeiro por razões humanitárias, para a retirada de civis. Mas Lavrov não quis prometer nada sobre esta questão", lamentou o ministro ucraniano, admitindo, no entanto, que a Ucrânia decidiu "continuar os esforços e permanecer neste formato" de negociações.

"Estou determinado a continuar porque queremos que esta guerra termine e que o nosso país seja libertado dos ocupantes", disse Kuleba, esperando "conversas sérias e construtivas".

"Se a Rússia estiver pronta para isso, nós também estamos", garantiu.

As primeiras conversas diretas entre os ministros dos Negócios Estrangeiros russo e ucraniano ocorreram hoje de manhã, o primeiro sucesso diplomático de Ancara, que ofereceu mediação desde o início da crise.

Esta foi a primeira reunião deste nível desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Antes do início da reunião trilateral às 11:15 (08:15 em Lisboa), o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlüt Cavusoglu, recebeu e conversou separadamente com cada um dos ministros, que chegaram na noite anterior e ficaram em hotéis diferentes.

O primeiro a ser recebido foi Kuleba, que se apresentou a sorrir e cumprimentou o seu homólogo turco com um abraço caloroso. Depois foi a vez de Lavrov, que apareceu com o rosto sisudo.

Os dois homens não trocaram apertos de mão em público, segundo os jornalistas presentes.

Esta foi a primeira viagem de Lavrov ao estrangeiro desde que a Rússia foi atingida por duras sanções ocidentais, que também o atingiram diretamente.

Kuleba, que expressou a sua gratidão aos anfitriões turcos, visava conseguir nestas negociações "três pontos-chave", de acordo com um comunicado de imprensa do seu ministério: "um cessar-fogo imediato, uma melhoria da situação ajuda humanitária em Mariupol, Kharkiv, Sumy, Volnovakha e outras cidades ucranianas, e uma retirada das tropas russas do território da Ucrânia".

Antes da sua partida, Kuleba disse, num vídeo divulgado na rede social Facebook, que as suas expectativas eram "limitadas", já que a Rússia mantém uma campanha brutal de bombardeamento e cerco às principais cidades da Ucrânia.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 2,1 milhões de pessoas para os países vizinhos -- o êxodo mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, e muitos países e organizações impuseram sanções à Rússia que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 14.º dia, provocou um número ainda por determinar de mortos e feridos, que poderá ser da ordem dos milhares, segundo várias fontes.

Embora admitindo que "os números reais são consideravelmente mais elevados", a ONU confirmou hoje a morte de pelo menos 516 civis, entre os quais 41 crianças.