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Indígenas e Comunidades da Amazónia alertam para efeitos de "agentes externos"

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Foto Shutterstock

Representantes dos Povos Indígenas e Comunidades Locais da Amazónia alertaram, esta segunda-feira, na conferência da ONU sobre o clima (COP 27), para os efeitos das alterações climáticas nos seus territórios criadas "por agentes externos".

"As empresas madeireiras e agropecuárias provocaram uma desflorestação consistente na bacia amazónica que trouxe efeitos nunca antes vistos, como inundações simultâneas em toda a região, afetando os povos indígenas e colocando em risco a sua soberania e segurança alimentar", disse o coordenador das Organizações Indígenas da Bacia Amazónica (COIAB), Nadino Calapucha, numa entrevista à agência espanhola de notícias Efe.

Calapucha, que é também porta-voz da Aliança Global de Comunidades Territoriais, enfatizou a importância dos povos como guardiões das florestas e alertou que a desflorestação cria períodos de seca e atinge cerca de 20 por cento da superfície total da Amazónia.

A situação "está praticamente a atingir o ponto sem retorno, é essa a realidade", sublinhou.

"Os Povos Indígenas e as Comunidades Locais vivem no centro de uma crise global climática e de biodiversidade", referiu, por sua vez, o ministro britânico para a Ásia, Energia, Clima e Ambiente, Lorde Zac Goldsmith, durante a apresentação do relatório da organização não-governamental Forest Tenure Pledge, no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2022 (COP27).

A situação mostra, segundo Goldsmith, que "há fortes indícios de que as soluções [dos povos indígenas e comunidades locais] para mitigar as alterações do clima e para a proteção da natureza são altamente eficazes, mas recebem apenas uma pequena fração do financiamento de que precisam para proteger as florestas".

Em 2021, receberam apenas 19% dos 1.700 milhões de dólares (valor idêntico em euros) atribuídos na COP26. A maior parte desse financiamento (39%) foi direcionada para iniciativas latino-americanas, 38% foi usado em projetos globais, 16% foi para projetos em África e 7% para o sudeste Asiático.

Do total recebido, 80% foi destinado ao desenvolvimento das capacidades de Povos Indígenas e Comunidades Locais ou a apoios para a participação das comunidades em reformas nacionais, de acordo com o relatório apresentado pela Forest Tenure Pledge.

Segundo o documento, apenas 07% do financiamento foi diretamente atribuído a organizações lideradas por Povos Indígenas ou Comunidades Locais, enquanto cerca de metade foi canalizada para organizações não-governamentais (ONG) internacionais.

A Aliança Global de Comunidades Territoriais exigiu, na COP27, poder gerir diretamente os fundos sem intermediários, reivindicando que, "embora as ONG tenham um papel fundamental na luta, quem sofre os efeitos diretamente e quem luta na linha de frente do fogo" são os povos indígenas e as comunidades locais", disse Calapucha.

Levi Sucre, copresidente desta entidade amazónica, insistiu ainda que todo o sistema de financiamento para soluções climáticas deve superar "os sistemas burocráticos estabelecidos há muito tempo" para que seja possível ter acesso a "fundos climáticos" a gerir em benefício de todos.

Por sua vez, o diretor do programa Recursos Naturais e Mudanças Climáticas da Fundação Ford, Anthony Bebbington, adiantou que a comunidade filantrópica deve "encontrar uma maneira de acelerar as transferências financeiras diretas para organizações de Povos Indígenas e Comunidades Locais" e "trabalhar urgentemente enquanto são desenvolvidos mecanismos para absorver esses fundos".